quarta-feira, 28 de junho de 2017

Escutar o grito dos pobres e erradicar a pobreza que anula a dignidade humana

Não pensemos nos pobres apenas como destinatários duma boa obra de voluntariado, que se pratica uma vez por semana, ou, menos ainda, de gestos improvisados de boa vontade para pôr a consciência em paz”.


Sabemos a grande dificuldade que há, no mundo contemporâneo, para se poder identificar claramente a pobreza. E todavia esta interpela-nos todos os dias com os seus inúmeros rostos vincados pelo sofrimento, a marginalização, a opressão, a violência, as torturas e a prisão, pela guerra, a privação da liberdade e da dignidade, pela ignorância e o analfabetismo, pela emergência sanitária e a falta de trabalho, pelo tráfico de pessoas e a escravidão, pelo exílio e a miséria, pela migração forçada. A pobreza tem o rosto de mulheres, homens e crianças explorados para vis interesses, espezinhados pelas lógicas perversas do poder e do dinheiro. Como é impiedoso e nunca completo o elenco que se é constrangido a elaborar à vista da pobreza, fruto da injustiça social, da miséria moral, da avidez de poucos e da indiferença generalizada!

Infelizmente, nos nossos dias, enquanto sobressai cada vez mais a riqueza descarada que se acumula nas mãos de poucos privilegiados, frequentemente acompanhada pela ilegalidade e a exploração ofensiva da dignidade humana, causa escândalo a extensão da pobreza a grandes sectores da sociedade no mundo inteiro. Perante este cenário, não se pode permanecer inerte e, menos ainda, resignado. À pobreza que inibe o espírito de iniciativa de tantos jovens, impedindo-os de encontrar um trabalho, à pobreza que anestesia o sentido de responsabilidade, induzindo a preferir a abdicação e a busca de favoritismos, à pobreza que envenena os poços da participação e restringe os espaços do profissionalismo, humilhando assim o mérito de quem trabalha e produz: a tudo isso é preciso responder com uma nova visão da vida e da sociedade.

Todos estes pobres – como gostava de dizer o Beato Paulo VI – pertencem à Igreja por «direito evangélico» (Discurso de abertura na II Sessão do Concílio Ecuménico Vaticano II, 29/IX/1963) e obrigam à opção fundamental por eles. Por isso, benditas as mãos que se abrem para acolher os pobres e socorrê-los: são mãos que levam esperança. Benditas as mãos que superam toda a barreira de cultura, religião e nacionalidade, derramando óleo de consolação nas chagas da humanidade. Benditas as mãos que se abrem sem pedir nada em troca, sem «se» nem «mas», nem «talvez»: são mãos que fazem descer sobre os irmãos a bênção de Deus.”

Assim  escreve o Papa Francisco na mensagem para o primeiro Dia Mundial dos Pobres que se assinala, este ano, a 19 de novembro.

E continua: “Convido a Igreja inteira e os homens e mulheres de boa vontade a fixar o olhar, neste dia, em todos aqueles que estendem as suas mãos invocando ajuda e pedindo a nossa solidariedade. São nossos irmãos e irmãs, criados e amados pelo único Pai celeste. Este Dia pretende estimular, em primeiro lugar, os crentes, para que reajam à cultura do descarte e do desperdício, assumindo a cultura do encontro. Ao mesmo tempo, o convite é dirigido a todos, independentemente da sua pertença religiosa, para que se abram à partilha com os pobres em todas as formas de solidariedade, como sinal concreto de fraternidade. Deus criou o céu e a terra para todos; foram os homens que, infelizmente, ergueram fronteiras, muros e recintos, traindo o dom originário destinado à humanidade sem qualquer exclusão.

“Será um Dia que vai ajudar as comunidades e cada batizado a refletir como a pobreza está no âmago do Evangelho e tomar consciência de que não poderá haver justiça nem paz social enquanto Lázaro jazer à porta da nossa casa”.



Mensagem na íntegra pode ser lida AQUI

terça-feira, 20 de junho de 2017

Em cada três segundos há um refugiado forçado no mundo


Assinala-se esta terça-feira, 20 de junho, o Dia Mundial do Refugiado para render homenagem ao valor e resiliência de milhões de pessoas e famílias que foram obrigadas a abandonar tudo devido à guerra, à perseguição e à discriminação, num mundo onde as fronteiras parecem fechar-se, as valas e muros parecem ser a resposta de alguns Estados aos grandes deslocamentos de migrantes e refugiados e em que o espaço humanitário tende a reduzir-se.

Segundo as Nações Unidas, em todo o mundo existem 65,6 milhões deslocadas à força: 22,5 milhões são refugiados - mais de metade são menores de 18 anos,  40,3 milhões são pessoas deslocadas internamente e 2,8 milhões são requerentes de asilo.

Estas novas vagas de mobilidade humana deve-se principalmente a conflitos, desastres, degradação ambiental e em particular às desigualdades entre o sul e o norte.

Mais de um milhão de refugiados precisam de ser recolocados noutro país, mas apenas um em cada 13 irá consegui-lo, de acordo com a ONU que diz que só há 93.200 lugares disponíveis para 2017.


De acordo com os números da Organização Internacional para as Migrações (OIM) os migrantes e potenciais refugiados que chegaram em 2017 à Europa através do Mediterrâneo atingem as 60.000 pessoas. Cerca de 85% dos migrantes registados até 10 de maio chegaram a Itália. Os restantes 15% chegaram à Grécia, a Chipre e a Espanha.

Entre 1 de janeiro e 22 de maio registaram-se 1.300 mortes, três vezes mais que em 2016. Já foram resgatados mais de 20 mil migrantes nesta rota desde o início do ano. Desde 2014 mais de 14.000 pessoas morreram no Mediterrâneo, quando tentavam alcançar a Europa.



Guerra, violência e perseguição elevam deslocamentos forçados a um nível sem precedentes  LER AQUI 





sábado, 17 de junho de 2017

A terra é a nossa casa, o nosso futuro!


A aridez dos solos que atinge a totalidade do interior Algarvio e do Alentejo, está a progredir para as zonas do noroeste, tradicionalmente uma das mais pluviosas da Europa, e a aumentar nas zonas do litoral sul e montanhas do Centro.

Estes dados são adiantados pela Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza, neste dia 17 de junho, que as Nações Unidas declararam como Dia Mundial da Combate à Desertificação e à Seca.


Em Portugal, e segundo o Programa de Ação Nacional de Combate à Desertificação para o período 2008-2018, 32,6 % do território nacional encontra-se em situação degradada e 60,3% estão em condições razoáveis a boas.

Este ano, as Nações Unidas lembram a todos o papel importante do solo na produção de alimentos e na criação de emprego local, como uma forma de aumentar a sustentabilidade, estabilidade e segurança no Mundo. Sem solos saudáveis e produtivos, surge a pobreza, a fome e a necessidade de emigração, que muitas vezes gera conflitos e problemas humanitários gravíssimos.

Se é verdade que os países mais afetados e vulneráveis à desertificação são, na sua maior parte, os mais pobres e menos desenvolvidos do Mundo, não é menos verdade que o problema é mais abrangente e também bate à porta dos chamados países desenvolvidos. Na Europa, em virtude das profundas alterações ocorridas durante as últimas décadas nas áreas rurais, os modelos tradicionais de gestão agro-silvo-pastoril sofreram profundas transformações e o valor económico e social da terra sofreu profundas transformações, que em muitos casos se traduziram na degradação dos solos e no consequente abandono da terra.

Nas causas apontadas para a degradação da terra em Portugal, estão a utilização do solo com culturas agrícolas intensivas de regadio, com contaminação por pesticidas e fertilizantes, erosão e alterações da paisagem; a (re)arborização dos espaços florestais com espécies exóticas e consequente perda de biodiversidade e esgotamento dos solos e dos aquíferos; os incêndios recorrentes; os problemas socioeconómicos, que afastam as pessoas do interior.

Como o combate à desertificação não se pode dissociar da luta pela conservação e proteção dos solos, a Quercus, como coordenadora em Portugal da Iniciativa de Cidadania Europeia (ICE)  People4Soil, apela a que todos apoiem e assinem esta ICE que está a decorrer até Setembro de 2017, através do link People4Soil



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Sem floresta não há água


quarta-feira, 14 de junho de 2017

Violência contra idosos


Em quatro anos, entre 2013 e 2016, a violência contra idosos aumentou 30% em Portugal. 

A Associação Portuguesa de Apoio à Vitima (APAV) tem vindo a alertar a sociedade portuguesa para a realidade ainda obscura da violência praticada contra as pessoas idosas.

Os agressores são na maioria os filhos (39,6%), o cônjuge (26,5%), os vizinhos (4,4%) e os netos (36%).


Em 2016, a APAV apoiou 1261 pessoas idosas vítimas de violência, uma média de 24 pessoas por semana.  Nesse mesmo ano foram registados 717 casos de maus-tratos psíquicos (30,1%), 442 de maus-tratos psicológicos (19%) e 281 de ameaças/coação (12,1%).

Com o aumento da esperança de vida prevê-se que o número de pessoas com mais de 60 anos passe de 542 milhões em 1995 para 1200 milhões em 2025. A Organização Mundial de Saúde (OMS) receia que este aumento, associado a um evidente crescimento da quebra de laços entre as gerações e com o enfraquecimento dos sistemas de proteção social, venha a agravar as situações de violência.



 RELATÓRIO DA APAV  AQUI


segunda-feira, 12 de junho de 2017

Dia Internacional Contra o Trabalho Infantil



Em conflitos e catástrofes - Protejamos as crianças do trabalho infantil
As crianças que estão em áreas afetadas por conflitos e desastres estão entre as mais vulneráveis. Nenhuma criança deve ser deixada para trás.

Celebra-se a 12 de Junho o Dia Mundial Contra o Trabalho Infantil. Criado em 2002 pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), este dia tem como objetivos alertar a sociedade e os poderes políticos para a realidade de muitas crianças que são obrigadas a trabalhar no seu dia-a-dia e agregar esforços, num movimento global, para a eliminação do trabalho infantil.

Trata-se de um estímulo para que todas as nações adotem normas e ações sólidas de combate ao trabalho infantil, como o desenvolvimento de políticas que protejam os direitos das crianças, inspeções regulares em locais de trabalho e a garantia do acesso das crianças à educação.

Em 2017, o foco da OIT para a data é o impacto dos conflitos e catástrofes sobre o trabalho infantil. Estima-se que 250 milhões de crianças vivam em áreas afetadas por conflitos armados. As crianças representam mais da metade das 65 milhões de pessoas atualmente deslocadas pela guerra. Uma proporção significativa das 168 milhões de crianças envolvidas no trabalho infantil vive em áreas afetadas por conflitos e catástrofes.


Segundo a UNICEF o trabalho infantil é uma realidade para 168 milhões de crianças em todo o mundo: 99 milhões no setor agrícola e os restantes em atividades como a extração mineira, a manufatura e o turismo. Na África subsaariana 25% das crianças de idade compreendida entre 5 e 14 anos, já trabalham; na Ásia meridional são 12%, ou seja 77 milhões de crianças. No Paquistão, 88% das crianças entre 7 e 14 anos que não vão à escola, trabalham. No Bangladesh são 48% e na Índia, 40%.


Também a organização Comércio Justo chamou a atenção para a utilização de menores em situações de trabalho forçado e de exploração nos setores da alimentação e têxtil, destacando a necessidade dos consumidores procurarem conhecer as condições de fabrico dos produtos para evitar a violação dos direitos das crianças.


terça-feira, 6 de junho de 2017

Dia Mundial do Ambiente



Ligar as pessoas à Natureza, é o mote do Dia Mundial do Ambiente 2017, e pretende chamar a atenção de toda a humanidade para a necessidade de olharmos à nossa volta e apreciar a beleza da Natureza e a forma como fazemos parte íntima dela, como dependemos dela e da necessidade de um relacionamento sustentado com o que ela nos dá.

“A Irmã Terra  clama contra o mal que lhe provocamos por causa do uso irresponsável e do abuso dos bens que Deus nela colocou. Crescemos a pensar que éramos seus proprietários e dominadores, autorizados a saqueá-la”.

(da Encíclica do Papa Francisco Laudato Si’)



"Se todos os atuais habitantes do planeta fizessem um uso dos recursos igual àquele que os portugueses estão a fazer, a 5 de junho, precisamente no Dia Mundial do Ambiente, nós esgotaríamos os recursos renováveis do planeta", alertou Francisco Ferreira, presidente da Zero - Associação Sistema Terrestre Sustentável. "Devemos substituir o querer mais para darmos lugar a palavras como a qualidade de vida, a suficiência e, acima de tudo, o conseguirmos viver de uma forma sustentável e feliz em harmonia com aquilo que o planeta nos é capaz de dar".

O consumo em Portugal de recursos naturais em relação à capacidade de resposta da natureza - a chamada pegada ecológica média por habitante -, aumentou 73% entre 1961 e 2013, segundo um estudo da mesma associação.

Se cada pessoa no Planeta vivesse como uma pessoa média portuguesa, a humanidade exigiria o equivalente a 2,3 planetas para sustentar as suas necessidades de recursos.


"Não esqueçamos nunca que o meio ambiente é um bem colectivo, património de toda a humanidade e responsabilidade de todos", afirmou o papa Francisco, a propósito deste dia.

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quinta-feira, 1 de junho de 2017

Uma criança é uma criança


Proteger as crianças em movimento contra a violência, abusos e exploração – é este o novo relatório da Unicef que apresenta uma visão global sobre as crianças refugiadas e migrantes, as motivações que estão por trás das suas deslocações e os riscos que enfrentam em percursos extremamente perigosos, muitas vezes à mercê de contrabandistas e traficantes, para chegarem aos seus destinos, o que justifica claramente a necessidade de um sistema global de proteção para manter estas crianças a salvo da exploração, de abusos e da morte.

O número total de crianças refugiadas e migrantes que se deslocam sozinhas aumentou quase cinco vezes desde 2010. Em 2015-2016, pelo menos 300 mil crianças não acompanhadas e separadas foram registadas em cerca de 80 países.

Apenas uma criança que se desloca sozinha é preocupante, mas o número de crianças que o fazem atualmente é assustador – e nós adultos não estamos a protegê-las. Contrabandistas e traficantes sem escrúpulos estão a explorar a sua vulnerabilidade em proveito próprio, ajudando as crianças a atravessar fronteiras, apenas para as venderem para escravatura e prostituição forçadas. É inadmissível que não estejamos a defendê-las devidamente destes predadores.” – denuncia Justin Forsyth, Director Executivo Adjunto da UNICEF.



Pode ler-se no Relatório:

Atualmente, há milhões de crianças em movimento através de fronteiras internacionais – fugindo da violência e de conflitos, de catástrofes naturais ou da pobreza, em busca de uma vida melhor. Centenas de milhares viajam sozinhas. Quando se deparam com poucas alternativas seguras para seguir caminho, as crianças recorrem a rotas perigosas e a contrabandistas para as ajudarem a atravessar fronteiras. As lacunas graves que existem nas leis, políticas e serviços destinados a proteger as crianças em trânsito deixam as crianças refugiadas e migrantes desprovidas de protecção e cuidados. Carenciadas, desenraizadas e muitas vezes sozinhas, as crianças em movimento tornam-se presas fáceis para os traficantes e outros que delas abusam e as exploram.

O número de crianças que se deslocam sozinhas é alarmante

Muitas crianças movimentam-se sozinhas e enfrentam riscos particularmente graves. Em algumas zonas do globo, o número de crianças que viajam sozinhas aumentou exponencialmente. Na perigosa passagem do mar Mediterrâneo Central, a partir do Norte de África para a Europa, 92% das crianças que chegaram a Itália em 2016 e nos primeiros dois meses de 2017 não estavam acompanhadas – em 2015 essa percentagem foi de 75%.

As crianças em movimento são acima de tudo crianças e precisam de proteção

A Convenção sobre os Direitos da Criança protege todas as crianças, onde quer que estejam. Todas as crianças, independentemente do seu estatuto legal, nacionalidade ou ausência desta, têm o direito de ser protegidas contra quaisquer danos, de aceder a serviços essenciais como cuidados de saúde e educação, de estar com as suas famílias e que o seu interesse superior seja o princípio que norteia as decisões que as afetam.
Porém, na prática, as crianças em movimento são frequentemente vítimas de violações dos seus direitos devido ao seu estatuto migratório. A forma como são tratadas varia muito de Estado para Estado, e a responsabilidade de zelar por elas recai muitas vezes sobre os países mais pobres. Mesmo crianças que fogem de violência e conflitos muitas vezes não têm a proteção que precisam, especialmente quando a proteção de refugiados é limitada na lei ou na prática.

É tempo de agir agora

Os direitos das crianças não estão confinados às fronteiras nacionais. Onde quer que os conflitos ou as catástrofes, a negligência, os abusos e a marginalização levem as crianças a deslocar-se, os seus direitos acompanham-nas. É urgentemente necessária liderança para elaborar um acordo global sobre como proteger e assegurar os direitos das crianças em movimento, independentemente de quem são ou de onde estão.

VER RELATÓRIO  AQUI