terça-feira, 30 de agosto de 2016

Europa: Quando as armas têm mais direitos que os migrantes


Muros para os migrantes, aviões e navios para as armas: é a guerra da Europa no Médio Oriente, alimentada pela rota balcânica, rica de milhares de milhões de euros e pobre de dignidade.

Passaram poucos meses desde quando no coração de uma Europa que se sonhava sem fronteiras, os muros e as barreiras voltaram a crescer. Só em 2015 mais de 850 mil migrantes chegaram ao Velho Continente através da rota balcânica, que atravessa a Turquia, Grécia, Macedónia, Sérvia, Croácia, Eslovénia e Hungria, até à meta austríaca e do Norte da Europa. Uma viagem perigosa, em particular na travessia marítima entre Turquia e Grécia, que já reclamou milhares de vidas, entre as quais as de muitas crianças. É ao longo desta rota, acompanhada pela mediterrânica a partir da Líbia, que nos últimos anos se multiplicaram as barreiras e as polémicas.

A partida para a corrida aos muros começou em 2011, quando a Grécia fechou a fronteira com a Turquia através de um fosso de 120 km de extensão, 30 metros de largura e sete de profundidade, para impedir a entrada dos migrantes.
Depois da deslocação da rota migratória para a Bulgária, dois anos depois também Sófia reagiu, construindo uma vedação na passagem para a Turquia: 160 km de redes metálicas e arame farpado.
O ano passado foi a vez da Hungria, com a construção do célebre muro com 175 km de extensão e 4 metros de altura na fronteira com a Sérvia. E depois a Eslovénia, que fechou a porta para a Croácia, e a Macedónia, que levantou uma barreira na fronteira com a Grécia.

Aos obstáculos materiais acrescentaram-se depois as muitas barreiras legislativas criadas contra os migrantes, com um aperto aos fluxos migratórios adotado por quase todos os países da Europa Oriental.

Se, todavia, virmos bem, muitos destes países têm outro traço em comum: estão entre aqueles que mais negócios fazem com o comércio das armas para as muitas guerras do Médio Oriente, a mesma região de onde fogem os migrantes a quem impedem o trânsito. Esta é uma das conclusões de um relatório da Belkan Investigative Reporting Network e Organized Crime and Corruption Reporting Project.

Enquanto centenas de milhares de refugiados procuram fugir para o Norte e os estados europeus se apressam a fechar cada estrada que lhes permita o caminho, milhares de toneladas de armas percorrem sem impedimentos para o sul aquela mesma rota balcânica, por avião e navios. Um corredor totalmente diferente do humanitário, composto por milhões de euros, em direção às tragédias do Médio Oriente, na maior parte dos casos ilegal, mas perfeitamente aberto e altamente rentável.

Um negócio que desde 2012, ano da escalada do conflito armado na Síria e do falhanço em muitas regiões da denominada "primavera árabe", ganhou no total mais de 1,2 mil milhões de euros. Um negócio em que a Croácia é líder. A mesma que na passada primavera, juntamente com a Eslovénia e a Sérvia, fechou a porta dos Balcãs na cara dos refugiados. O país ganhou mais de 302 milhões de euros em poucos anos graças à venda de armas. Seguem-se a República Checa, Sérvia, Eslováquia, Roménia, Bósnia-Herzegovina e Montenegro.

Nos últimos quatro anos dezenas de aviões descolaram de Belgrado, Sófia e Bratislava em direção à Turquia, Arábia Saudita, Jordânia e Emiratos Árabes Unidos. Milhares de espingardas de assalto, morteiros, lança-mísseis, armas anticarro, metralhadoras e respetivas munições deixaram a Europa para os conflitos que inflamam o Médio Oriente e o Norte de África, Líbia, Iémen, mas sobretudo Síria.

Os destinatários das armas são os numerosos grupos de opositores ao presidente sírio, as partes em conflito no Norte de África, os aliados sunitas da Arábia Saudita no Iémen, assim como os milicianos do Daesh. Uma maravilha para a indústria bélica da Europa Oriental, caída em desgraça depois dos faustos da era soviética e das guerras balcânicas.
Um comércio que, aliás, não envolve só a Europa. O embaixador dos EUA na Síria entre 2011 e 2014, Robert Stephen Ford, revelou que os fluxo de armas seria coordenado pela CIA. Em dezembro de 2015 os EUA teriam fornecido navios militares para o transporte de 4700 toneladas de armas através do mar Negro, provavelmente como parte do programa de 500 milhões de dólares em treino e equipamento fornecido à oposição síria. De um comércio semelhante se falava já em 2013, depois de o jornal New York Times ter revelado que um responsável croata tinha posto à disposição da Arábia Saudita o vasto arsenal soviético do próprio país.

«Esta guerra contra o mal comporta dizer não ao ódio fratricida e às mentiras de que se serve; dizer não à violência em todas as suas formas; dizer não à proliferação das armas e ao seu comércio ilegal. Há tanto! Há tanto! E permanece sempre a dúvida: esta guerra, e a outra — porque há guerras em toda a parte — é deveras uma guerra devido a problemas ou é uma guerra comercial para vender estas armas no comércio ilegal?», questionou o papa em setembro de 2013.

«Olhando para os desafios que neste nosso tempo é urgente enfrentar para construir um mundo mais pacífico, gostaria de sublinhar dois: o comércio das armas e as migrações forçadas», afirmou o Francisco em maio de 2014, acrescentando: «Seria uma contradição absurda falar de paz, negociar a paz e, ao mesmo tempo, promover ou permitir o comércio de armas. Poderíamos também pensar que seria uma atitude num certo sentido cínica proclamar os direitos humanos e, ao mesmo tempo, ignorar ou não assumir a responsabilidade de homens e mulheres que, obrigados a deixar a sua terra, morrem na tentativa ou não são acolhidos pela solidariedade internacional».

No mês seguinte, durante uma audiência geral, declarou: «Penso em quantos vivem do tráfico de pessoas e do trabalho escravo; pensais que quantos traficam pessoas, que exploram o próximo com o trabalho escravo têm o amor de Deus no seu coração? Não, não têm temor de Deus e não são felizes. Não o são! Penso naqueles que fabricam armas para fomentar as guerras; mas que profissão é esta! Estou convicto de que se agora eu vos dirigir a pergunta: quantos de vós sois fabricantes de armas? Nenhum, ninguém! Estes fabricantes de armas não vêm para ouvir a Palavra de Deus! Eles fabricam a morte, são mercantes de morte, fazem da morte mercadoria. Que o temor de Deus os leve a compreender que um dia tudo acaba e que deverão prestar contas a Deus».


Simone M. Varisco 
In "Caffè Storia" 

(Fonte:http://www.snpcultura.org/europa_quando_as_armas_tem_mais_direitos_que_os_migrantes.html)

sexta-feira, 19 de agosto de 2016

DIA MUNDIAL DA AJUDA HUMANITÁRIA



Assinala-se neste dia 19 de Agosto, o Dia Mundial da Ajuda Humanitária, que tem como objetivos homenagear todos os trabalhadores humanitários que perderam suas vidas na promoção da causa humanitária, alertar para os atuais desafios da intervenção humanitária e consciencializar toda a sociedade para a urgência de minorar o sofrimento de cerca de 125 milhões de pessoas que precisam de ajuda humanitária.


 VER:     UMA HUMANIDADE


À medida que aumenta a necessidade de uma intervenção humanitária, tem também aumentado o risco dos trabalhadores humanitários se tornarem vítimas colaterais, como tem acontecido na Síria, no Iraque, na Turquia, no Sudão, no Congo ou em Myanmar. Só durante o ano de 2015 houve registo de 109 trabalhadores humanitários mortos, 110 feridos e 68 raptados.



quinta-feira, 18 de agosto de 2016

AMNISTIA INTERNACIONAL




Síria: No relatório  It breaks the human: Torture, disease and death in Syria's prisons , divulgado hoje, a Amnistia Internacional denuncia os crimes contra a humanidade que estão a acontecer nas prisões da Síria controladas pelo Governo onde, desde março de 2011, estima que tenham morrido perto de 18 mil pessoas, mais de 300 mortes por mês.

O relatório baseia-se em testemunhos de sobreviventes que denunciam torturas, condições de grande desumanidade e mortes em massa, que acontecem nos centros de segurança sírios, operados pelos serviços secretos do governo.

Frequentemente, os opositores ao regime passam meses ou mesmo anos em centros de detenção das várias agências de serviços secretos. Sem acesso a um advogado, muitos são julgados e condenados em poucos minutos e transferidos para a prisão militar de Saydnaya, nos arredores de Damasco, onde as condições são descritas como particularmente terríveis.




Turquia: A Amnistia Internacional acusou o Governo da Turquia de abuso de poder, garantindo ter provas que denunciam os maus tratos a que têm sido sujeitas muitas das cerca de 60 mil pessoas que foram presas desde a tentativa de golpe de estado.

A Turquia decretou o estado de emergência durante três meses e desde então tem levado a cabo uma verdadeira "limpeza" em vários setores da sociedade, afastando opositores do regime.


“É imperativo que as autoridades turcas parem com estas práticas abomináveis e permitam a presença de intermediários internacionais nos locais onde estão encerrados os detidos", alerta o diretor da Amnistia Internacional na Europa.

terça-feira, 16 de agosto de 2016

UNICEF




Iraque: segundo o relatório da UNICEF - A Heavy Price for Children -  3.6 milhões de crianças,  1 em cada 5, correm sério perigo de morte, ferimentos, violência sexual, rapto e recrutamento por grupos armados. O documento revela que o número de crianças expostas a estas violações aumentou 1.3 milhões em 18 meses, e que, neste momento, 4.7 milhões de crianças precisam de assistência humanitária – um terço de todas as crianças iraquianas. O relatório documenta a escala e a complexidade da crise humanitária num país fragilizado por quatro décadas de conflito, insegurança, negligência e onde o impacto sobre as crianças piora de dia para dia. Nos últimos dois anos e meio, cerca de 1500 crianças foram raptadas no país – um dado verdadeiramente chocante que representa uma média de 50 raptos por mês, muitas delas forçadas a combater ou sujeitas a abusos sexuais. O relatório mostra também que, desde o início de 2014, cerca de 10% das crianças iraquianas – mais de 1.5 milhões – viram-se obrigadas a abandonar as suas casas devido à violência. Quase uma em cada cinco escolas não estão em condições de ser utilizadas e perto de 3.5 milhões de crianças em idade escolar estão fora da escola. 

Síria: em Alepo, 2 milhões de pessoas não têm acesso a água canalizada através da rede de abastecimento pública devido à escalada de ataques e combates que danificaram os sistemas elétricos necessários para o fornecimento de água à cidade. No dia 31 de Julho, foi atingida a central elétrica que permitia o fornecimento de água para as zonas este e oeste de Alepo. As autoridades conseguiram restabelecer rapidamente uma linha de eletricidade alternativa no dia 4 de Agosto e o sistema de abastecimento de água da cidade voltou a funcionar. Mas em menos de 24 horas, os confrontos intensificaram-se e o sistema foi novamente danificado, deitando por terra todos os esforços de reparação. “As crianças e as famílias em Alepo estão a enfrentar uma situação catastrófica. Estes cortes ocorrem em plena onda de calor, colocando as crianças em risco grave de doenças transmissíveis pela água” denuncia o representante da UNICEF na Síria. Se o fornecimento da água não for restabelecido nos próximos dias, dois milhões de habitantes serão forçados a recorrer a fontes de água não potável.


segunda-feira, 15 de agosto de 2016

MÉDICOS SEM FRONTEIRAS


Iémen: 11 mortos e pelo menos 19 feridos foi o resultado de um ataque aéreo a um hospital apoiado pela organização humanitária internacional Médicos Sem Fronteiras (MSF), esta segunda feira, dia 15 de Agosto. As coordenadas de GPS do hospital foram repetidamente partilhadas com todas as partes do conflito, inclusive a coligação liderada pela Arábia Saudita e a sua localização era bem conhecida de todos. Foi o quarto ataque contra uma instalação médica dos MSF em menos de 12 meses.

Síria: Um hospital apoiado pelos MSF e que atendia uma população de 70 mil pessoas foi destruído por um bombardeio aéreo na cidade de Millis, no dia 6 de agosto. Quatro profissionais do hospital e outras nove pessoas – cinco crianças e duas mulheres – foram mortos durante dois ataques aéreos que atingiram diretamente o hospital.

A organização faz um apelo para que as partes em conflito respeitem as leis de guerra e parem de atacar instalações de saúde e outras áreas civis.


HOSPITAIS   #NãoSãoUmAlvo



Vídeo / Resumo das principais atividades da Organização Humanitária Internacional Médicos Sem Fronteiras em Julho de 2016