quarta-feira, 29 de novembro de 2017

Cientistas do Mundo alertam a Humanidade: Um Segundo Aviso


Cerca de 15 mil cientistas de 184 países, entre os quais mais de 200 portugueses, publicaram um artigo na revista BioScience para nos avisar que estão em curso danos ambientais “irreversíveis” e “substanciais” na Terra. Algumas das principais destruições (muitas provocadas por nós) são a crescente extinção de espécies, a desflorestação, o aumento da temperatura e das emissões de dióxido de carbono (CO2).

Este já é o segundo alerta do género feito pelos cientistas à humanidade. O primeiro foi feito em 1992. Mais de 1700 cientistas de todo o mundo (muitos deles premiados com o Nobel) assinavam um artigo com o título “Alerta dos Cientistas do Mundo à Humanidade”.

Os seres humanos e o mundo natural estão em colisão. As atividades humanas causam danos severos e, por vezes, irreversíveis no ambiente e nos recursos”, lê-se logo no início do artigo. Depois, os cientistas enumeraram uma série de danos, nomeadamente na camada de ozono, nos recursos hídricos, nas zonas costeiras, no solo, assim como a perda de espécies ou o rápido crescimento da população mundial. Também sugeriam passos a seguir, como a estabilização da população ou o controlo das atividades mais prejudiciais para o ambiente. Pediam ainda que os países desenvolvidos agissem com urgência e reduzissem o seu “superconsumo”.

Agora, há um novo aviso à humanidade, com mais cientistas e também dados mais preocupantes.

E qual foi a evolução desde 1992? Houve uma redução de 26% na quantidade de água doce disponível per capita; uma queda na captura de peixe selvagem, apesar do crescimento do esforço de pesca; um aumento de 75% do número de zonas mortas nos oceanos; uma perda de 121 milhões de hectares de floresta, muitos convertidos para a agricultura; um aumento contínuo e significativo nas emissões globais de CO2 e nas temperaturas médias do planeta; um aumento de 35% da população humana; e uma redução de 29% nos mamíferos, répteis, anfíbios, aves e peixes. “Além disso, desencadeámos uma extinção em massa, a sexta em cerca de 540 milhões de anos, em que muitas formas de vida atuais podem ser aniquiladas ou condenadas à extinção até ao final do século”, assinala-se.

Em 2017 haverá um aumento de cerca de 2% das emissões. Ou seja, das 36,2 gigatoneladas de CO2 emitidas em 2016 passámos para 36,8 em 2017. A China é um dos principais responsáveis por estas emissões. “Algumas pessoas têm tentado descartar estas provas e pensam que estamos a ser alarmistas” mas “o que os cientistas fazem é analisar os dados e olhar as consequências a longo prazo. Quem assinou este segundo aviso não está a levantar um falso alarme. Está a reconhecer os sinais óbvios de que estamos a ir num caminho insustentável.” – referem os cientistas.

E terminam assim o seu aviso: “Para evitar a miséria generalizada e a perda catastrófica de biodiversidade, a humanidade deve adotar práticas ambientalmente mais sustentáveis e alternativas em relação às práticas atuais. Esses preceitos foram bem formulados pela liderança científica mundial há 25 anos, mas, na maioria dos aspetos, não acatamos a sua advertência. Logo será tarde demais para mudar o curso da nossa trajetória de fracasso e o tempo está se esgotando. Devemos reconhecer, na nossa vida quotidiana e nas nossas instituições de governo, que a Terra, com toda a sua vida, é o nosso único lar.”

O Documento pode ser lido AQUI

Entrevista com Cristina Branquinho, professora da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e signatária do documento LER AQUI



domingo, 26 de novembro de 2017

Manifesto dos Pobres

Por favor, não nos “roubem a esperança”: a esperança num futuro melhor, com mais justiça e solidariedade, num mundo mais unido, pacífico e fraterno. A esperança de que acabem todos os preconceitos e discriminações, que haja emprego para quem precisa, que sejamos bons uns para os outros, que a compreensão seja a base das nossas relações humanas, que haja oportunidades para todas e todos os que as procuram.
 
Estes são os nossos desejos, de pessoas atingidas pela marginalidade a que nos votam tantos e tantas, com os seus gestos, atitudes e modos de vida.
 
Mas não deveria ser assim. Não tem de ser assim. Gostaríamos que essas pessoas se sentissem mais nossos irmãos e irmãs.
 
Estamos gratos ao Papa Francisco por ter instituído este Dia Mundial dos Pobres. E agradecemos o seu pedido de perdão que ele nos dirigiu, há um ano, no encontro que teve connosco, em Roma, e reiterou esta semana, quando disse que muitas vezes nem sequer se olha para nós.
 
Concordamos com o Papa Francisco que é difícil identificar claramente a pobreza. Muitas vezes, nós somos reduzidos a números e estatísticas. Mas nós temos nome, rosto, vidas e anseios como toda a gente.
 
Queremos que nos estendam a mão, que nos abracem, que nos ajudem a romper o círculo da solidão em que nos enredaram.
 
Não gostaríamos de receber apenas uma esmola de vez em quando. Sem dúvida que ela, mesmo não resolvendo o problema, ajuda-nos a mitigar a fome. Mas gostávamos também que a dessem olhando-nos nos olhos. Que nos perguntassem porque sofremos e o que nos dói, que quisessem mesmo encontrar-se connosco.
 
Somos pessoas marcadas pelo sofrimento, pela marginalização, pela opressão, pela violência, pela privação da liberdade e da dignidade, pela ignorância e pelo analfabetismo, pela falta de trabalho e de cuidados de saúde, pelo tráfico e pela escravidão, pelo exílio e a miséria, pela migração forçada.
 
Somos mulheres, homens e crianças que, como diz o Papa, são “explorados por vis interesses, espezinhados pelas lógicas perversas do poder e do dinheiro.”
 
Vivemos nesta condição, porque nem sempre temos capacidade de aproveitar as oportunidades que nos são proporcionadas, nem tivemos, na altura certa, quem nos ajudasse a alcançá-las. Mas também somos vítimas da riqueza descarada que se “acumula nas mãos de poucos privilegiados, frequentemente acompanhada pela ilegalidade e a exploração ofensiva da dignidade humana”, como também diz o Papa.
 
Por isso, ajudem-nos a acreditarmos em nós para que não fiquemos inertes ou resignados e resignadas. Para que a pobreza não iniba o espírito de iniciativa dos mais jovens de nós, quando procuram trabalho, nem nos deixe anestesiados – a nós, os que sofremos, e a todos os que, com a sua inércia, nos fazem sofrer.
 
Queremos que todos lutem por uma nova visão da vida e da sociedade. Não queremos servir apenas para campanhas eleitorais de quem nos esquece no dia a seguir. Não queremos servir apenas para confortar consciências e ser objeto de orações que, como diz o Papa, correm o risco de ser palavras vazias que não transformam as nossas vidas.
 
Mas queremos, sobretudo, que ponham em prática novas formas de vida, na economia e na política, que acabem com a nossa pobreza e a nossa marginalidade.
 
Queremos que este primeiro Dia Mundial dos Pobres seja uma oportunidade para o compromisso sério de todos em ordem à mudança da história, gerando verdadeiro desenvolvimento, escutando o grito de todos os marginalizados para os reerguer desse estado.

(Divulgado no passado domingo, aquando da celebração do 1º Dia Mundial dos Pobres, instituído pelo Papa Francisco)


quarta-feira, 15 de novembro de 2017

Os pobres de Pai Américo

A propósito do Dia Mundial dos Pobres que se celebra a 19 de Novembro, o Grupo Justiça e Paz da Comunidade Cristã da Serra do Pilar promove um encontro de reflexão e debate sob o lema

Os "Pobres" de "Pai Américo"
problemas e soluções



Quem eram os "pobres" de quem Pai Américo foi
"Apóstolo e Evangelizador"?
Que desafios o seu olhar e acção nos coloca ainda hoje?


Uma conversa inspirada no pensar e no agir desta figura do cristianismo português do
século XX orientada por
Luís Leal

Luís Leal é membro da Comunidade da Serra do Pilar, ex-aluno e discípulo do Presbítero Arlindo de Magalhães, concluiu, neste ano de 2017, o seu Doutoramento em História Contemporânea pela Universidade do Porto com tese sobre o "pensamento teológico" e a "acção social" de Padre Américo Monteiro de Aguiar, fundador da "Obra da Rua - Casa do Gaiato". Entre outras responsabilidades pastorais (nas 3 Paróquias do "Vale de Campanhã" e na Pastoral da Juventude da nossa Diocese), é Assistente de Investigação no Centro de Estudos de História Religiosa da Universidade Católica Portuguesa. 


dia 17 Novembro – 21,30h

Rua Marciano Azuaga, 82 V. N. Gaia

(no antigo Centro de Convívio)


quinta-feira, 2 de novembro de 2017

Por um mundo livre das armas nucleares

O prémio Nobel da Paz 2017 foi atribuído, no passado mês de outubro, a Campanha Internacional para a Abolição das Armas Nucleares (ICAN, na sigla original).


A ICAN é uma coligação internacional que reúne centenas de organizações humanitárias, ambientais, de direitos humanos, pacifistas e de apoio ao desenvolvimento, de cerca de 100 países, e trabalha ativamente há mais de 10 anos na tentativa da proibição e eliminação das armas nucleares, alertando para as consequências humanitárias catastróficas que o seu uso provocará.

"A organização recebe esta distinção pelo seu trabalho na sensibilização para as consequências humanitárias catastróficas de qualquer uso de armas nucleares e pelos seus esforços revolucionários para promover uma proibição de tais armas por tratado”, declarou o Comité Nobel norueguês, que considera que “o risco das armas nucleares serem usadas é maior do que alguma vez foi em muito tempo.

Isso mesmo disse a própria ICAN, depois de saber que tinha sido agraciada com o Nobel da Paz. “Este é um momento de grande tensão global, em que a retórica agressiva pode facilmente levar-nos a todos, de forma inexorável, ao horror indescritível. O fantasma do conflito nuclear assombra-nos mais uma vez.

Opinião semelhante tem John Carlson, especialista em desarmamento nuclear:  “Desde o fim da Guerra Fria, a maioria das pessoas pensa que o risco de uma guerra nuclear acabou. Agora estamos perante uma situação perigosa em que Estados com armamento nuclear olham para estas armas como se fossem só mais uma de várias opções militares."

Em julho deste ano, a ICAN foi responsável pela criação de um tratado (apoiado pelas Nações Unidas) que proíbe a utilização de armamento nuclear - O Tratado para a Proibição das Armas Nucleares - o primeiro instrumento obrigatório para o desarmamento nuclear, requer que todos os países que o ratifiquem se abstenham de desenvolver, testar, produzir, construir, adquirir, possuir ou armazenar armas nucleares em quaisquer circunstâncias.

O Tratado, aprovado por 122 países, teve a oposição das nove potências nucleares Estados Unidos, Rússia, Reino Unido, França, Israel, China, Índia, Paquistão e Coreia do Nortee da maioria dos países da NATO, incluindo Portugal.

O tratado proíbe categoricamente as piores armas de destruição em massa e estabelece um caminho claro para sua eliminação total. É uma resposta à preocupação cada vez maior da comunidade internacional de que qualquer uso de armas nucleares causaria danos catastróficos, generalizados e duradouros às pessoas e ao nosso planeta.

Desde 20 de Setembro, já cerca de 50 países, entre eles o Vaticano, assinaram o tratado.


É um evento histórico, apesar da recusa das potências nucleares de aderir a ele…Quando o tratado entrar em vigor (depois de 50 países o terem ratificado), será mais difícil para os países que possuem armas nucleares, sendo eles ou não parte do Tratado de Não-Proliferação, continuarem a afirmar que têm armas nucleares legitimamente para a proteção da sua segurança e dos seus aliados", refere Marc Funaud, principal assessor do Programa de Desafios Emergentes de Segurança e Grupo de Proliferação de Armas do Centro de Genebra para a Política de Segurança.

Sobre esta matéria, a Santa Sé organiza no Vaticano, nos dias 10 e 11 de novembro, um congresso internacional intitulado “Perspetivas para um mundo livre das armas nucleares e para um desarmamento integral” com representantes da ONUda NATO e onze prémios Nobel da Paz

Se forem levadas em consideração as principais ameaças à paz e à segurança neste mundo multipolar do século XXI, como o terrorismo, os conflitos assimétricos, as problemáticas ambientais, a pobreza, surgem muitas dúvidas sobre a inadequação da dissuasão nuclear para responder efetivamente a tais desafios”, escreveu o Papa Francisco. “As preocupações aumentam quando consideramos as catastróficas consequências humanitárias e ambientais que derivam de qualquer utilização das armas nucleares com devastadores efeitos indiscriminados e incontroláveis no tempo e no espaço, sem falar no desperdício de recursos para a energia nuclear para fins militares, que, ao contrário, poderiam ser utilizadas para prioridades mais significativas, como a promoção da paz e do desenvolvimento humano. O objetivo final da eliminação total das armas nucleares torna-se tanto um desafio quanto um imperativo moral e humanitário”.

Entre nós, o Conselho Português para a Paz e Cooperação lançou uma petição com o objetivo de pressionar as autoridades portuguesas a assinar e ratificar o Tratado de Proibição das Armas Nucleares.

“Não é possível vencer uma guerra nuclear” - diz Beatrice Fihn, diretora-executiva da Campanha Internacional para a Abolição das Armas Nucleares e Prémio Nobel da Paz.
Ver entrevista AQUI