quinta-feira, 2 de novembro de 2017

Por um mundo livre das armas nucleares

O prémio Nobel da Paz 2017 foi atribuído, no passado mês de outubro, a Campanha Internacional para a Abolição das Armas Nucleares (ICAN, na sigla original).


A ICAN é uma coligação internacional que reúne centenas de organizações humanitárias, ambientais, de direitos humanos, pacifistas e de apoio ao desenvolvimento, de cerca de 100 países, e trabalha ativamente há mais de 10 anos na tentativa da proibição e eliminação das armas nucleares, alertando para as consequências humanitárias catastróficas que o seu uso provocará.

"A organização recebe esta distinção pelo seu trabalho na sensibilização para as consequências humanitárias catastróficas de qualquer uso de armas nucleares e pelos seus esforços revolucionários para promover uma proibição de tais armas por tratado”, declarou o Comité Nobel norueguês, que considera que “o risco das armas nucleares serem usadas é maior do que alguma vez foi em muito tempo.

Isso mesmo disse a própria ICAN, depois de saber que tinha sido agraciada com o Nobel da Paz. “Este é um momento de grande tensão global, em que a retórica agressiva pode facilmente levar-nos a todos, de forma inexorável, ao horror indescritível. O fantasma do conflito nuclear assombra-nos mais uma vez.

Opinião semelhante tem John Carlson, especialista em desarmamento nuclear:  “Desde o fim da Guerra Fria, a maioria das pessoas pensa que o risco de uma guerra nuclear acabou. Agora estamos perante uma situação perigosa em que Estados com armamento nuclear olham para estas armas como se fossem só mais uma de várias opções militares."

Em julho deste ano, a ICAN foi responsável pela criação de um tratado (apoiado pelas Nações Unidas) que proíbe a utilização de armamento nuclear - O Tratado para a Proibição das Armas Nucleares - o primeiro instrumento obrigatório para o desarmamento nuclear, requer que todos os países que o ratifiquem se abstenham de desenvolver, testar, produzir, construir, adquirir, possuir ou armazenar armas nucleares em quaisquer circunstâncias.

O Tratado, aprovado por 122 países, teve a oposição das nove potências nucleares Estados Unidos, Rússia, Reino Unido, França, Israel, China, Índia, Paquistão e Coreia do Nortee da maioria dos países da NATO, incluindo Portugal.

O tratado proíbe categoricamente as piores armas de destruição em massa e estabelece um caminho claro para sua eliminação total. É uma resposta à preocupação cada vez maior da comunidade internacional de que qualquer uso de armas nucleares causaria danos catastróficos, generalizados e duradouros às pessoas e ao nosso planeta.

Desde 20 de Setembro, já cerca de 50 países, entre eles o Vaticano, assinaram o tratado.


É um evento histórico, apesar da recusa das potências nucleares de aderir a ele…Quando o tratado entrar em vigor (depois de 50 países o terem ratificado), será mais difícil para os países que possuem armas nucleares, sendo eles ou não parte do Tratado de Não-Proliferação, continuarem a afirmar que têm armas nucleares legitimamente para a proteção da sua segurança e dos seus aliados", refere Marc Funaud, principal assessor do Programa de Desafios Emergentes de Segurança e Grupo de Proliferação de Armas do Centro de Genebra para a Política de Segurança.

Sobre esta matéria, a Santa Sé organiza no Vaticano, nos dias 10 e 11 de novembro, um congresso internacional intitulado “Perspetivas para um mundo livre das armas nucleares e para um desarmamento integral” com representantes da ONUda NATO e onze prémios Nobel da Paz

Se forem levadas em consideração as principais ameaças à paz e à segurança neste mundo multipolar do século XXI, como o terrorismo, os conflitos assimétricos, as problemáticas ambientais, a pobreza, surgem muitas dúvidas sobre a inadequação da dissuasão nuclear para responder efetivamente a tais desafios”, escreveu o Papa Francisco. “As preocupações aumentam quando consideramos as catastróficas consequências humanitárias e ambientais que derivam de qualquer utilização das armas nucleares com devastadores efeitos indiscriminados e incontroláveis no tempo e no espaço, sem falar no desperdício de recursos para a energia nuclear para fins militares, que, ao contrário, poderiam ser utilizadas para prioridades mais significativas, como a promoção da paz e do desenvolvimento humano. O objetivo final da eliminação total das armas nucleares torna-se tanto um desafio quanto um imperativo moral e humanitário”.

Entre nós, o Conselho Português para a Paz e Cooperação lançou uma petição com o objetivo de pressionar as autoridades portuguesas a assinar e ratificar o Tratado de Proibição das Armas Nucleares.

“Não é possível vencer uma guerra nuclear” - diz Beatrice Fihn, diretora-executiva da Campanha Internacional para a Abolição das Armas Nucleares e Prémio Nobel da Paz.
Ver entrevista AQUI


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