terça-feira, 28 de março de 2017

A Europa na encruzilhada




A Conferência Europeia das Comissões de Justiça e Paz, tornou pública uma reflexão sob o título “A Europa na encruzilhada” onde interpela a União Europeia e os seus Estados-Membros sobre os princípios que devem ser respeitados na construção de um projeto europeu renovado e concretiza algumas das políticas que o atual período de dúvida e incerteza torna inadiáveis.

Algumas das propostas políticas apresentadas:

- A fim de manter o direito universal de asilo, é urgente reformar o sistema comum europeu de asilo;

- A liberalização do mercado não é um objetivo em si mesmo; a condenação da pobreza e do aumento do desemprego em vários países; o apoio à proposta de um Pilar Europeu dos Direitos Sociais;

- Como minimizar a possível ameaça aos direitos do trabalho, segurança e normas ambientais face aos acordos de comércio livre que a Comissão Europeia tem vindo a negociar;

- O futuro do trabalho face à chamada revolução digital, propondo-se uma ação conjunta da Comissão Europeia e dos parceiros sociais;

- A cada vez menor tributação das multinacionais e dos muito ricos impõe o acordo dos Estados-Membros na aceitação de regras comuns;

- A fim de apoiar os esforços por um estilo de vida mais sustentável, é necessário um forte compromisso climático a alcançar em 2017, entre os governos da União Europeia e o Parlamento Europeu, que deverá incluir a reforma do Regime de Comércio de Emissões após 2020;

- A fim de defender a Europa contra o terrorismo, contribuir para a prevenção e o fim dos conflitos armados no mundo, a União Europeia tem de reforçar a sua política comum de segurança e defesa, de promoção da paz, de reforçar os seus esforços no domínio do desarmamento, da não proliferação e do controlo das exportações de armas;

- O reconhecimento de que as instituições europeias podem e devem ser mais democráticas; 

E termina o documento:

“A política é mais do que a busca do interesse pessoal por meios estratégicos e táticos. Num mundo em rápida mudança, é necessária uma reinterpretação dinâmica do papel e da responsabilidade da Europa. Isto é particularmente importante numa comunidade de Estados que estão fortemente interligados. A Igreja Católica, juntamente com as outras Igrejas, bem como com outras comunidades religiosas e, na verdade, com todos os que lutam pelo bem comum, podem ajudar a reavivar o espírito europeu de paz. Reanimar o projeto da unidade europeia é concretizar o sonho do Papa Francisco:


«(...) Com a mente e o coração, com esperança e sem vãs nostalgias, como um filho que reencontra na mãe Europa as suas raízes de vida e de fé, sonho um novo humanismo europeu, “um caminho constante de humanização”, ao qual servem “memória, coragem e utopia sadia e humana”. Sonho uma Europa jovem, capaz de ainda ser mãe: uma mãe que tenha vida, porque respeita a vida e dá esperanças de vida. Sonho uma Europa que cuida da criança, que socorre como um irmão o pobre e quem chega à procura de acolhimento porque já não tem nada e pede abrigo. Sonho uma Europa que escuta e valoriza as pessoas doentes e idosas, para que não sejam reduzidas a objetos descartáveis porque improdutivas. Sonho uma Europa, onde ser migrante não seja delito, mas apelo a um maior compromisso com a dignidade de todos os seres humanos. Sonho uma Europa onde os jovens respirem o ar puro da honestidade, amem a beleza da cultura e duma vida simples, não poluída pelas solicitações sem fim do consumismo; onde casar e ter filhos sejam uma responsabilidade e uma alegria grande, não um problema criado pela falta de trabalho suficientemente estável. Sonho uma Europa das famílias, com políticas realmente eficazes, centradas mais nos rostos do que nos números, mais no nascimento dos filhos do que no aumento dos bens. Sonho uma Europa que promova e tutele os direitos de cada um, sem esquecer os deveres para com todos. Sonho uma Europa da qual não se possa dizer que o seu compromisso em prol dos direitos humanos constituiu a sua última utopia.»

sábado, 25 de março de 2017

Sedentos de um futuro



Cerca de 600 milhões de crianças, ou seja, 1 em cada 4, estarão a viver em 2040 em zonas nas quais a procura de água excede largamente os recursos disponíveis, de acordo um relatório da UNICEF lançado no Dia Mundial da Água.

O Relatório, Sedentos de um futuro: A água e as crianças num clima em mudança, analisa as ameaças para a vida e o bem--estar das crianças causadas pela escassez de fontes de água em condições e o modo como as alterações climáticas irão agravar estes riscos nos próximos anos.

A água é essencial; sem ela nada pode crescer. Mas há no mundo milhões de crianças que não tem acesso a água segura – o que põe em perigo as suas vidas, prejudica a sua saúde, e compromete o seu futuro. Esta crise será cada vez maior, salvo se agirmos agora de forma coletiva.” afirma Anthony Lake, Diretor Executivo da UNICEF.

Segundo o relatório, 37 países enfrentam atualmente níveis de stress hídrico extremamente elevados, situação que ocorre quando mais de 80 por cento da água disponível para a agricultura, indústria e uso doméstico se esgota anualmente.

O aumento das temperaturas, a subida dos níveis do mar, o número cada vez maior de cheias, secas e o degelo podem afetar a qualidade e a quantidade de água disponível. O crescimento da população, o aumento do consumo de água e da procura deste recurso, em grande medida devido à industrialização e à urbanização, estão a esgotar os recursos hídricos ao nível mundial. Os conflitos em muitas zonas do globo ameaçam também o acesso das crianças à água para beber.

Todos estes fatores obrigam as crianças a recorrer a água imprópria contaminada, expondo-as a doenças que podem ser mortais como a cólera ou a diarreia. Muitas crianças em zonas afetadas por secas gastam várias horas por dia para ir buscar água, o que as priva da possibilidade de irem à escola. As raparigas são especialmente vulneráveis a assaltos nesses percursos. As crianças mais pobres e mais vulneráveis são as que mais irão sofrer com o aumento do stress hídrico, dado que milhões delas, já vivem atualmente em zonas com acesso reduzido a água segura e saneamento.

O relatório salienta ainda que:
· 260 milhões de crianças vivem atualmente em zonas onde o risco de cheias é extremamente elevado e a defecação ao ar livre uma prática generalizada, ameaçando contaminar fontes de água com dejetos humanos;
· Mais de 800 crianças menores de cinco anos morrem diariamente de diarreia associada às condições muito precárias da água, saneamento e higiene;
· A nível global, as mulheres e as raparigas gastam 200 milhões de horas diárias a recolher água.


Também o Papa Francisco se associou à celebração do Dia Mundial da Água, apelando ao respeito por um bem que é de todos. Já em 2015, na carta encíclica ‘Laudato Si’, dedica um ponto específico à “questão da água”:

27. Outros indicadores da situação actual têm a ver com o esgotamento dos recursos naturais. É bem conhecida a impossibilidade de sustentar o nível actual de consumo dos países mais desenvolvidos e dos sectores mais ricos da sociedade, onde o hábito de desperdiçar e jogar fora atinge níveis inauditos. Já se ultrapassaram certos limites máximos de exploração do planeta, sem termos resolvido o problema da pobreza.

28. A água potável e limpa constitui uma questão de primordial importância, porque é indispensável para a vida humana e para sustentar os ecossistemas terrestres e aquáticos. As fontes de água doce fornecem os sectores sanitários, agro-pecuários e industriais. A disponibilidade de água manteve-se relativamente constante durante muito tempo, mas agora, em muitos lugares, a procura excede a oferta sustentável, com graves consequências a curto e longo prazo. Grandes cidades, que dependem de importantes reservas hídricas, sofrem períodos de carência do recurso, que, nos momentos críticos, nem sempre se administra com uma gestão adequada e com imparcialidade. A pobreza da água pública verifica-se especialmente na África, onde grandes sectores da população não têm acesso a água potável segura, ou sofrem secas que tornam difícil a produção de alimento. Nalguns países, há regiões com abundância de água, enquanto outras sofrem de grave escassez.

29. Um problema particularmente sério é o da qualidade da água disponível para os pobres, que diariamente ceifa muitas vidas. Entre os pobres, são frequentes as doenças relacionadas com a água, incluindo as causadas por microorganismos e substâncias químicas. A diarreia e a cólera, devidas a serviços de higiene e reservas de água inadequados, constituem um factor significativo de sofrimento e mortalidade infantil. Em muitos lugares, os lençóis freáticos estão ameaçados pela poluição produzida por algumas actividades extractivas, agrícolas e industriais, sobretudo em países desprovidos de regulamentação e controles suficientes. Não pensamos apenas nas descargas provenientes das fábricas; os detergentes e produtos químicos que a população utiliza em muitas partes do mundo continuam a ser derramados em rios, lagos e mares.

30. Enquanto a qualidade da água disponível piora constantemente, em alguns lugares cresce a tendência para se privatizar este recurso escasso, tornando-se uma mercadoria sujeita às leis do mercado. Na realidade, o acesso à água potável e segura é um direito humano essencial, fundamental e universal, porque determina a sobrevivência das pessoas e, portanto, é condição para o exercício dos outros direitos humanos. Este mundo tem uma grave dívida social para com os pobres que não têm acesso à água potável, porque isto é negar-lhes o direito à vida radicado na sua dignidade inalienável. Esta dívida é parcialmente saldada com maiores contribuições económicas para prover de água limpa e saneamento as populações mais pobres. Entretanto nota-se um desperdício de água não só nos países desenvolvidos, mas também naqueles em vias de desenvolvimento que possuem grandes reservas. Isto mostra que o problema da água é, em parte, uma questão educativa e cultural, porque não há consciência da gravidade destes comportamentos num contexto de grande desigualdade.

31. Uma maior escassez de água provocará o aumento do custo dos alimentos e de vários produtos que dependem do seu uso. Alguns estudos assinalaram o risco de sofrer uma aguda escassez de água dentro de poucas décadas, se não forem tomadas medidas urgentes. Os impactos ambientais poderiam afectar milhares de milhões de pessoas, sendo previsível que o controle da água por grandes empresas mundiais se transforme numa das principais fontes de conflitos deste século. 




quinta-feira, 23 de março de 2017

Hora do Planeta



A Hora do Planeta é uma iniciativa simbólica que pretende chamar a atenção e responsabilizar as pessoas na luta contra as alterações climáticas e a favor de um ambiente sustentável. Organizada pela associação ambiental World Wild Fund for Nature, realiza-se desde 2007. Em 2016 foram mais de 7 mil as cidades de 178 países em todo o mundo e milhões de pessoas que aderiram a esta ação pelo ambiente.

Todos - cidadãos, empresas, governos e comunidades - são convidados desligarem a luz durante uma hora, como forma de chamar a atenção para a necessidade de protegermos o Planeta contra os efeitos das alterações climáticas.


No próximo sábado, 25 de Março de 2017, entre as 20,30 e as 21,30h muitos milhões de pessoas, municípios e empresas, em todo o mundo, apagarão as suas luzes durante uma hora - a Hora do Planeta - para mostrar como, unidos, podemos fazer a diferença na luta contra alterações climáticas. O evento simbólico pretende estimular todas as pessoas e entidades a tomarem medidas para reduzir as suas emissões de carbono duma forma permanente.



Na carta encíclica do Papa Francisco Laudato Si’ – Sobre o Cuidado da Casa Comum, pode ler-se, na sua Introdução:

1. «LAUDATO SI’, mi’ Signore – Louvado sejas, meu Senhor», cantava São Francisco de Assis. Neste gracioso cântico, recordava-nos que a nossa casa comum se pode comparar ora a uma irmã, com quem partilhamos a existência, ora a uma boa mãe, que nos acolhe nos seus braços: «Louvado sejas, meu Senhor, pela nossa irmã, a mãe terra, que nos sustenta e governa e produz variados frutos com flores coloridas e verduras».

2. Esta irmã clama contra o mal que lhe provocamos por causa do uso irresponsável e do abuso dos bens que Deus nela colocou. Crescemos a pensar que éramos seus proprietários e dominadores, autorizados a saqueá-la. A violência, que está no coração humano ferido pelo pecado, vislumbra-se nos sintomas de doença que notamos no solo, na água, no ar e nos seres vivos. Por isso, entre os pobres mais abandonados e maltratados, conta-se a nossa terra oprimida e devastada, que «geme e sofre as dores do parto» (Rm 8, 22). Esquecemo-nos de que nós mesmos somos terra (cf. Gn 2, 7). O nosso corpo é constituído pelos elementos do planeta; o seu ar permite-nos respirar, e a sua água vivifica-nos e restaura-nos.

13. O urgente desafio de proteger a nossa casa comum inclui a preocupação de unir toda a família humana na busca de um desenvolvimento sustentável e integral, pois sabemos que as coisas podem mudar. O Criador não nos abandona, nunca recua no seu projecto de amor, nem Se arrepende de nos ter criado. A humanidade possui ainda a capacidade de colaborar na construção da nossa casa comum. Desejo agradecer, encorajar e manifestar apreço a quantos, nos mais variados sectores da actividade humana, estão a trabalhar para garantir a protecção da casa que partilhamos. Uma especial gratidão é devida àqueles que lutam, com vigor, por resolver as dramáticas consequências da degradação ambiental na vida dos mais pobres do mundo. Os jovens exigem de nós uma mudança; interrogam-se como se pode pretender construir um futuro melhor, sem pensar na crise do meio ambiente e nos sofrimentos dos excluídos.

14. Lanço um convite urgente a renovar o diálogo sobre a maneira como estamos a construir o futuro do planeta. Precisamos de um debate que nos una a todos, porque o desafio ambiental, que vivemos, e as suas raízes humanas dizem respeito e têm impacto sobre todos nós. O movimento ecológico mundial já percorreu um longo e rico caminho, tendo gerado numerosas agregações de cidadãos que ajudaram na consciencialização. Infelizmente, muitos esforços na busca de soluções concretas para a crise ambiental acabam, com frequência, frustrados não só pela recusa dos poderosos, mas também pelo desinteresse dos outros. As atitudes que dificultam os caminhos de solução, mesmo entre os crentes, vão da negação do problema à indiferença, à resignação acomodada ou à confiança cega nas soluções técnicas. Precisamos de nova solidariedade universal. Como disseram os bispos da África do Sul, «são necessários os talentos e o envolvimento de todos para reparar o dano causado pelos humanos sobre a criação de Deus». Todos podemos colaborar, como instrumentos de Deus, no cuidado da criação, cada um a partir da sua cultura, experiência, iniciativas e capacidades.


terça-feira, 21 de março de 2017

Di(c)as para refletir

21 de Março - Dia Internacional de Luta Contra a Discriminação Racial

Entende-se por discriminação racial qualquer distinção, exclusão, restrição ou preferência em função da raça, cor, ascendência, origem nacional ou étnica, que tenha por objetivo ou produza como resultado a anulação ou restrição do reconhecimento, fruição ou exercício, em condições de igualdade, de direitos, liberdades e garantias ou de direitos económicos, sociais e culturais.



21 de Março - Dia Mundial da Floresta

Dia para refletir sobre a importância da floresta na manutenção da vida na Terra.

Desde a regularização do ciclo hidrológico, a proteção dos solos face à erosão, o suporte de ecossistemas que sustentam uma rica biodiversidade, a produção de inúmeros bens materiais, a produção de oxigénio que a transforma em verdadeiro sumidouro de dióxido de carbono, permitindo contrabalançar parcialmente o efeito de estufa que está a gerar alterações climáticas à escala global do planeta.

No entanto, por todo o Planeta, as florestas naturais desaparecem a um ritmo vertiginoso dando lugar a processos de erosão e desertificação que são acompanhados de uma perda de biodiversidade sem paralelo. O exemplo mais gravoso vem das florestas tropicais, como a Amazónia, onde muitas espécies são extintas.

Nos últimos 40 anos, o Mundo já perdeu metade das suas florestas, principalmente por causa de desmatamentos para fins agrícolas. As indústrias de produção de óleo de palma, soja, madeira, carne e cacau estão à frente no ranking da destruição.
Se a destruição das florestas permanecer no ritmo que se encontra, dentro de cerca de 50 anos não teremos mais florestas tropicais originais.



22 de Março - Dia Mundial da Água

Um relatório divulgado pelo Conselho Mundial da Água revela que 12% da população mundial não tem acesso a fontes potáveis - 319 milhões de africanos; 554 milhões de asiáticos; 50 milhões de sul-americanos - e 3,5 milhões de mortes por anos são atribuídas a doenças ligadas à água.

Entre as regiões mais afetadas estão Papua-Nova Guiné com a menor disponibilidade de água, apenas 40% da população tem acesso a fontes potáveis, seguido da Guiné Equatorial (48%), Angola (49%), Chade e Moçambique (51%), da República Democrática do Congo e Madagáscar (52%), e Afeganistão (55%).   

Este ano, o “Dia Mundial da Água” é dedicado ao problema das águas residuais. “Aproximadamente 90% das águas residuais do mundo são despejadas no meio ambiente sem tratamento”, segundo o presidente do Conselho Mundial da Água, que reúne mais de 300 entidades de 50 países.

Todos os anos uma em cada cinco crianças com idade inferior a cinco anos morre prematuramente devido a doenças relacionadas com a água e quase 40% da população mundial já enfrenta problemas de escassez de água e pode aumentar para 66% em 2025.


terça-feira, 14 de março de 2017

Bater no fundo


2016 foi o pior ano para as crianças da Síria. Nunca o sofrimento foi tão grande.

As violações graves dos direitos das crianças na Síria atingiram em 2016 o número mais elevado de que há registo – são estas as conclusões da UNICEF numa análise preocupante sobre o impacto do conflito nas crianças, no momento em que a guerra chega ao fim do seu sexto ano consecutivo. Os casos confirmados de morte, mutilação e recrutamento de crianças aumentaram significativamente no ano passado, com a escalada de violência em todo o país.

Desde o início do conflito, que esta semana entra no sétimo ano consecutivo, cerca de 2,3 milhões de menores já terão fugido da Síria. Segundo a UNICEF, os mais vulneráveis, cerca de 2,8 milhões, estão encurralados em áreas de difícil acesso e pelo menos 280 mil estão a viver sob cerco.

O nível de sofrimento não tem precedentes. Milhões de crianças na Síria estão permanentemente sob a ameaça de ataques, as suas vidas estão totalmente viradas do avesso. Todas estas crianças ficam marcadas para o resto da vida com consequências terríveis para a sua saúde, bem-estar e futuro.” – refere Geert Cappelaere, Diretor Regional da UNICEF para o Médio Oriente e Norte de África.

As dificuldades de acesso em diversas zonas da Síria não permitem avaliar a verdadeira dimensão do sofrimento das crianças, nem fazer chegar com a devida urgência assistência humanitária às crianças mais vulneráveis. Para além das bombas, das balas e das explosões, as crianças estão a morrer em silêncio, muitas vezes de doenças que poderiam ser facilmente evitáveis. O acesso a cuidados médicos, bens de primeira necessidade e outros serviços básicos contínua difícil.

No interior da Síria e além-fronteiras, as alternativas para lidar com a situação estão a esgotar-se, o que leva as famílias a adotar medidas extremas para sobreviver, empurrando muitas vezes as crianças para o casamento precoce e o trabalho infantil. Em mais de dois terços dos agregados familiares há crianças a trabalhar para ajudarem as famílias, algumas em condições muito duras, até mesmo para adultos.



2016 EM NÚMEROS
Pelo menos 652 crianças foram mortas – um aumento de 20 por cento em relação a 2015 – o que faz de 2016 o pior ano para as crianças da Síria desde o início da verificação formal das mortes de crianças (2014)

255 crianças foram mortas numa escola ou nas suas imediações

Mais de 850 crianças foram recrutadas para combater no conflito, mais do dobro do das que foram recrutadas em 2015. As crianças estão a ser usadas e recrutadas para combater diretamente nas linhas da frente e participam cada vez mais ativamente, incluindo em casos extremos de execuções, como bombistas suicidas ou guardas prisionais

Foram registados pelo menos 338 ataques contra hospitais e pessoal de saúde




quarta-feira, 8 de março de 2017

Dia Internacional da Mulher



A celebração do Dia Internacional da Mulher tem a sua origem nas lutas das mulheres, nos finais do séc. XIX e início do séc. XX, por melhores condições de trabalho e mais direitos.

A 8 de março de 1857 um grupo de trabalhadoras da indústria têxtil organizou uma marcha em Nova Iorque para exigir melhores condições de trabalho, a jornada diária reduzida para 10 horas e direitos iguais para homens e mulheres. Cinquenta e um anos depois, a 8 de março de 1908, um outro grupo de trabalhadoras em Nova Iorque escolheu a data para avançar para uma greve, homenageando as antecessoras. Queriam o fim do trabalho infantil e o direito de votar.

Esquecido por largos anos, foi recuperado pelos movimentos feministas dos anos 60, vindo a ser adoptado pela ONU em 1977.



Mas o dia 8 de março não pode ser apenas uma comemoração, tem que nos permitir refletir sobre a situação atual.

Apesar de algum progresso, as mulheres ainda recebem um salário substancialmente inferior ao dos homens em posições semelhantes, representam a maioria dos trabalhadores em empregos com baixos salários e lutam para aceder às posições de liderança. Apesar de terem mais qualificações, em Portugal, as mulheres ganham em média menos 16,7% do que os homens, o que significa que têm de trabalhar mais dois meses por ano para obter o mesmo rendimento, revela a Comissão para a Igualdade no Trabalho e no Emprego.

Segundo a ONU, 35% das mulheres foram vítimas de violência física ou sexual, 200 milhões de meninas ou mulheres sofreram uma forma de mutilação genital e 700 milhões de mulheres foram obrigadas a se casar antes dos 18 anos. Em Portugal, a violência doméstica continua a ser um flagelo. Nos últimos 13 anos foram assassinadas 454 mulheres.

Na Europa, as mulheres recebem de reforma menos 40% do que os homens. Em média, mais mulheres completam o ensino superior, mas, ainda assim, ganham menos dinheiro. Na administração das grandes empresas cotadas em bolsa, menos de um quarto são mulheres. Quanto mais acima na estrutura empresarial, menor é o número de mulheres. Quase dois terços das mulheres tem emprego, mas um terço trabalha a tempo parcial, e quase metade o faz devido a razões relacionadas com a família e a prestação de cuidados. Caso não se façam mudanças significativas, a Europa precisará de 70 anos para atingir a igualdade de salários, 40 anos até as tarefas de casa serem partilhadas com igualdade, e 20 anos até atingir o equilíbrio de géneros na política.


A comissão do Parlamento Europeu para os direitos da mulher e a igualdade dos géneros decidiu dedicar o Dia Internacional da Mulher de 2017, à emancipação económica das mulheres. Porque o dinheiro não traz felicidade, mas pode ajudar a decidir o próprio futuro ou facilitar a fuga de uma situação de violência doméstica.



CINCO DESAFIOS PARA A IGUALDADE DE GÉNERO


sábado, 4 de março de 2017

VEMOS, OUVIMOS E LEMOS. NÃO PODEMOS IGNORAR



Uma Viagem Fatal para as Crianças: A Rota Migratória do Mediterrâneo Central

O percurso do Norte de África, das costas da Líbia, para a Europa, através do Mediterrâneo central, é uma das mais mortíferas e perigosas rotas migratórias para  crianças e mulheres. O relatório, divulgado pela UNICEF, denuncia situações de grande violência e abusos sexuais, por parte de contrabandistas, traficantes e grupos de crime organizado.

No ano passado, mais de 181 mil refugiados e migrantes - incluindo mais de 25 mil crianças desacompanhadas - chegaram a Itália por esta rota. No mesmo período, pelo menos 4.579 pessoas morreram quando tentavam atravessar o Mar Mediterrâneo, incluindo 700 crianças.

Segundo o relatório, os centros de detenção líbios geridos pelo Governo e por milícias armadas têm servido como negócios lucrativos que se alimentam do tráfico de pessoas. Sobrelotados e incapazes de garantir as condições mínimas de segurança, estes centros não são mais do que campos de trabalhos forçados e prisões improvisadas onde milhares de crianças e mulheres migrantes vivem encarceradas durante meses, enfrentando situações de violência e fome.



Vão crescendo os muros anti-refugiados na Europa

A Hungria está a começar a construir uma segunda vedação de arame farpado ao longo da fronteira com a Sérvia, equipada com camaras de vigilância e termográficas e, a cada 15 centímetros, com sensores que ativam um alarme quando a cerca é tocada. O seu custo é de 123 milhões de euros.

Ao mesmo tempo que arranca a construção da segunda vedação, o governo húngaro prepara-se para tentar fazer passar uma lei que dará poder às autoridades para deter qualquer requerente de asilo e devolvê-lo à Sérvia, independentemente do local onde seja feita a detenção.

Entretanto, na Alemanha, registou-se durante o ano de 2016 mais de 3500 ataques contra refugiados e abrigos de requerentes de asilo, de que resultou 560 feridos, dos quais 43 eram crianças. 





Quase um milhão e meio de crianças estão em risco iminente de morrer à fome.

O alerta é da UNICEF, que denuncia que quase 1,4 milhões de crianças estão em risco iminente de morte, este ano, devido à má nutrição aguda grave causada pela fome que paira sobre a Nigéria, a Somália, o Sudão do Sul e o Iémen.

O Programa Alimentar Mundial diz que são 20 milhões as pessoas que podem morrer até ao fim do Verão nestes quatro países. As guerras e a seca são as causas diretas.
Só no Iémen, hoje, há 2,1 milhões de crianças malnutridas e 18,8 milhões de pessoas – mais de dois terços da população – a precisar de ajuda alimentar.

Também o mais recente relatório da FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura), subordinado às perspetivas de colheita e situação alimentar, realça que a fome ameaça 37 países (28 dos quais no continente africano) que dependem da ajuda alimentar externa devido aos conflitos e à seca, apesar de abundarem as colheitas a nível mundial.