sábado, 1 de outubro de 2016

DESIGUALDADE DE RENDIMENTOS E POBREZA EM PORTUGAL




Assim se chama o Estudo da autoria de Carlos Farinha Rodrigues, Rita Felgueiras e Vítor Junqueira, recentemente publicado pela Fundação Francisco Manuel dos Santos, que faz uma avaliação das consequências sociais da crise que Portugal atravessou entre 2009 e 2014, bem como uma análise das medidas implementadas pelas autoridades públicas para lhes fazer frente.
As conclusões do estudo mostram que todos os indicadores de pobreza se agravaram durante a crise. A evolução dos rendimentos, entre 2009 2014, atesta que 10% dos mais ricos perderam 13% do seu rendimento, enquanto que 10% dos mais pobres perderam 25%. O número de portugueses mais pobres aumentou para 2 milhões de pessoas. A intensidade da pobreza aumentou 30%: "os pobres estão ainda mais pobres".
Entre os pobres, as crianças e os jovens foram os que mais sofreram: em 2014 um quarto das crianças estava em situação de pobreza (24,8%).

Pode ler-se no referido Estudo:

DESIGUALDADE E POBREZA DE MÃOS DADAS
Quanto mais desigual, mais pobre é um país

Olhamos para a forma desigual como os rendimentos estão distribuídos num país e acabamos a falar sobre o grau de pobreza existente nesse país. Mas que relação existe entre a desigualdade e a pobreza? Poderá dizer-se que quanto mais desigual mais pobre é um país? Os dados sobre o nível de desigualdade e de pobreza de todos os países da União Europeia mostram que sim.
Há uma forte associação entre os dois fenómenos: quanto maior é o nível de desigualdade na distribuição dos rendimentos entre a população, ou seja, quanto mais concentrado está o dinheiro numa parte da população, mais pobre esse país é. As transformações ocorridas nos rendimentos familiares e na desigualdade no decorrer do processo de ajustamento ocorrido entre 2009 e 2014 não poderiam deixar de se repercutir na alteração dos indicadores de pobreza. Embora o fenómeno da pobreza, dada a sua natureza multidimensional, extravase em muito o âmbito das desigualdades, os dois fenómenos estão profundamente ligados.
Nós temos uma economia assente em baixos salários. Uma economia com estas características gera sistematicamente desigualdade e pobreza. Isto significa que não podemos combater a pobreza de forma efetiva sem ao mesmo tempo combater as desigualdades.

OS MAIS POBRES FICARAM AINDA MAIS POBRES
Todos os indicadores de pobreza em Portugal agravam-se durante a crise

O número de portugueses pobres aumentou entre 2009 e 2014 para 2,02 milhões de pessoas, ou seja, mais 116 mil pessoas do que em 2009. Este número significa que um em cada cinco portugueses vive com um rendimento mensal abaixo de 422 euros.
Só que não foi este o único indicador da pobreza que se agravou. Além de ter aumentado o número de pessoas pobres, também se intensificou a gravidade da pobreza – os pobres estão ainda mais pobres e o dinheiro que têm mensalmente para gastar é ainda menos. Entre 2009 e 2014, a intensidade da pobreza aumentou 30%.
O aumento das situações de pobreza em Portugal nos anos mais recentes acompanhou uma evolução semelhante registada nos países da União Europeia e da zona euro. Estes resultados não podem deixar de ser preocupantes, não somente pelo que representam em termos de retrocesso das condições de vida das populações atingidas pelo agravamento da pobreza, mas igualmente por traduzirem um claro insucesso da estratégia Europa 2020, que se propunha atingir até 2020 uma redução de 20 milhões de pessoas em risco de pobreza e exclusão social.

Ver o Estudo completo AQUI

Também a Comissão Nacional Justiça e Paz emitiu um comunicado sobre este mesmo assunto intitulado 

Os mais pobres dos pobres em Portugal. Que futuro?

 “A pobreza em Portugal tem nome de mulher, criança, jovem, idoso, desempregado/a….” – refere o comunicado. E continua: “ Afirma o professor Farinha Rodrigues no presente estudo: «O aumento contínuo do fosso que separa os mais ricos dos mais pobres constitui o principal traço de evolução das desigualdades ao longo destes anos de crise». Cabe a cada um de nós sensibilizar a sociedade em geral para a injustiça que revela esta situação. 
Assim, a Comissão Nacional Justiça e Paz alerta mais uma vez para uma situação que põe em grave risco a coesão social e a concretização, no nosso país, da Declaração Universal dos Direitos Humanos. A CNJP acredita também que há futuro para a humanidade e, concretamente, para Portugal”.

E termina com um desafio: “A Comissão Nacional Justiça e Paz acredita que há saídas possíveis para situações que podem sugerir um “beco sem saída”. Recomenda que essas alternativas sejam divulgadas, nomeadamente pela comunicação social, por organismos públicos e pela sociedade civil, de forma a trazer esperança, valores de solidariedade, e sensibilidade ética à sociedade em que vivemos. Assim a CNJP apela a ”todas as pessoas de boa vontade” para que descubram “aqui e agora” o que, nas situações da vida quotidiana, nos compele a uma responsabilização e a uma ética global cada vez mais concretizadas.”

TEXTO COMPLETO

Sem comentários:

Enviar um comentário