sábado, 17 de fevereiro de 2018

A Paz inquieta!


Dá-nos, Senhor, aquela PAZ inquieta
Que denuncia a PAZ dos cemitérios
E a PAZ dos lucros fartos.

Dá-nos a PAZ que luta pela PAZ!
A PAZ que nos sacode
Com a urgência do Reino.
A PAZ que nos invade,
Com o vento do Espírito,
A rotina e o medo,
O sossego das praias
E a oração de refúgio.
A PAZ das armas rotas
Na derrota das armas.
A PAZ do pão da fome de justiça,
A PAZ da liberdade conquistada,
A PAZ que se faz “nossa”
Sem cercas nem fronteiras,
Que é tanto “Shalom” como “Salam”,
Perdão, retorno, abraço...
Dá-nos a tua PAZ,
Essa PAZ marginal que soletra em Belém
E agoniza na Cruz
E triunfa na Páscoa.

Dá-nos, Senhor, aquela PAZ inquieta,
Que não nos deixa em PAZ!

Poema de D. Pedro Casaldáliga, bispo emérito de São Félix do Araguaia, Brasil que  completou ontem 90 anos.



D. Pedro Casaldáliga nascido em Balsareny, região da Catalunha, foi para o Brasil e, em 1968, mergulhou na Amazônia. Nomeado bispo de São Félix do Araguaia, adotou como divisa princípios que haveriam de nortear literalmente sua atividade pastoral: “Nada possuir, nada carregar, nada pedir, nada calar e, sobretudo, nada matar”. No seu primeiro ano de episcopado (1971) escreve o manifesto, a primeira carta pastoral Uma Igreja da Amazônia em conflito com o latifúndio e a marginalização social”  denunciando o trabalho escravo na região, tornando-se uma referência para os movimentos de oposição à ditadura brasileira. Pastor de um povo ameaçado pelo trabalho escravo, tomou-lhe a defesa, entrando em choque com os grandes fazendeiros, as empresas agropecuárias, mineradoras e madeireiras. Poeta e revolucionário, pastor dos negros e dos indígenas. Cinco vezes réu em processos de expulsão do Brasil e frequentemente ameaçado de morte. Continua hoje morando numa casa humilde em São Félix do Araguaia, com o seu “irmão Parkinson” – como costuma dizer.  



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