sábado, 16 de abril de 2016

Mas as crianças, Senhor…


Iémen - O relatório “Children on the Brink” da UNICEF, divulgado no passado 26 de Março, destaca o pesadíssimo impacto que a violência está a ter nas crianças no Iémen e na deterioração da já precária situação humanitária. Em 2015, a UNICEF confirmou mais de 1.500 violações graves contra as crianças, mais de 2000 foram mortas ou feridas nos conflitos de guerra. “As crianças estão a pagar um preço brutal de um conflito para o qual não contribuem minimamente. Elas têm sido mortas ou mutiladas, e as que sobrevivem correm perigo de vida. As crianças não estão seguras em lado nenhum, mesmo quando estão a brincar ou a dormir,” lê-se no relatório. Com a escalada do conflito, o recrutamento e uso de crianças na guerra, algumas com apenas dez anos de idade, aumentou exponencialmente. As crianças têm agora um papel muito mais ativo nos confrontos, nos postos de controlo e no transporte de armas. Por todo o Iémen, os serviços básicos estão paralisados devido à escassez de combustível, eletricidade, água e alimentos. A UNICEF estima que, para além das perto de 40.000 crianças menores de cinco anos que morrem anualmente no Iémen, mais de 10.000 da mesma faixa etária não terão resistido no último ano devido à degradação dos serviços de saúde vitais como a vacinação e o tratamento de doenças como a diarreia e a pneumonia. O país, que já era o mais pobre da região e um dos mais pobres do mundo, está à beira do colapso devido ao conflito. Cerca de 10 milhões de crianças, ou seja, 80% das crianças do Iémen precisam de assistência humanitária urgente.


Nigéria, Camarões, Chade, Níger - O número de crianças envolvidas em ataques ‘suicidas’ nestes países aumentou drasticamente em 2015 - de 4 para 44 - segundo dados da UNICEF divulgados no passado dia 12 de Abril. Mais de 75% das crianças envolvidas nos ataques são raparigas. “Sejamos claros: estas crianças são vítimas, não autores de crimes,” afirmou Manuel Fontain, Diretor Regional da UNICEF para a África Central e Ocidental. “Ludibriar crianças e forçá-las a praticar atos mortais tem sido um dos aspetos mais aterradores da violência na Nigéria e nos países vizinhos.”

Lançado dois anos depois do rapto de mais de 200 raparigas em Chibok, o relatório “Beyond Chibok “ revela tendências alarmantes em quatro países afetados pelo grupo terrorista Boko Haram nos últimos dois anos:

1. Entre Janeiro de 2014 e Fevereiro de 2016, os Camarões registaram o número mais elevado de ataques suicidas envolvendo crianças (21), seguindo-se a Nigéria (17) e o Chade (2).

2. Durante os últimos dois anos, perto de 1 em cada 5 bombistas suicidas era uma criança e três quartos destas crianças eram raparigas. No ano passado, as crianças foram usadas em metade dos ataques nos Camarões, em 1 em cada 8 no Chade, e em 1 em cada 7 na Nigéria.

3. Em 2015, pela primeira vez, os ataques bombistas ‘suicidas’ alastraram para além das fronteiras da Nigéria. A frequência destes ataques aumentou de 32 para 151 entre 2014 e 2015: 89 destes ataques foram levados a cabo na Nigéria, 39 nos Camarões, 16 no Chade e 7 no Níger.

O uso premeditado de crianças que podem ter sido coagidas a transportar bombas criou um ambiente de medo e suspeita que tem consequências devastadoras para as raparigas que sobrevivem ao cativeiro e à violência sexual às mãos do Boko Haram no nordeste da Nigéria. As crianças que fogem, ou que são libertadas pelos grupos armados, são muitas vezes vistas como potenciais ameaças à segurança.

O relatório denuncia ainda que:

1. Perto de 1.3 milhões de crianças foram deslocadas;
2. Cerca de 1.800 escolas estão fechadas, porque foram danificadas, pilhadas, incendiadas ou porque são usadas como abrigo por pessoas deslocadas;
3. Há registo de mais de 5.000 crianças não acompanhadas ou separadas dos seus pais.





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