“Discordo
da frase ‘não dês o peixe, dá a cana’. Se só deres o peixe, ele só comerá hoje.
Se, além do peixe, deres a cana, ele comerá hoje e o resto da vida. Não vale de
nada dar uma cana a alguém que está com tanta fome que não pode sequer
levantar-se para chegar ao rio para pescar.” - Alfredo Bruto da Costa
Bruto da Costa, que dedicou a vida ao combate à
pobreza, morreu na passada sexta-feira, com 78 anos. Doutorado em Sociologia, esteve
à frente da Comissão Nacional de Justiça e Paz e ocupou vários cargos públicos. Realizou vários estudos e trabalhos sobre pobreza e
exclusão social e fazia parte de um grupo de trabalho dinamizado pela EAPN-Rede
Europeia Antipobreza/Portugal, que delineou um roteiro para uma Estratégia
Nacional de Erradicação da Pobreza.
Esta foi uma das suas últimas lutas. “Nós sabemos quem são os pobres em Portugal. O
problema é termos procurado combater a pobreza sobretudo de forma pontual.
Pontual e dispersa”, disse, na apresentação pública do roteiro, em Setembro
de 2015 e desafiou a “um compromisso para
uma estratégia nacional de combate à pobreza, que desse consistência a uma ação
que visasse não apenas reduzir o sofrimento do pobre, o que é certamente
necessário, mas também ajudá-lo a libertar-se da pobreza”.
“Que caminho tem seguido a política
económica que leva a que existam 40% de pobres que têm trabalho? Ou decidimos
que vamos crescer primeiro para distribuir depois, ou das várias maneiras de
crescer escolhemos a que assegura o crescimento com uma melhor distribuição.
Tem-se provado que a primeira não acontece. Há décadas que se espera o dia em
que já crescemos o suficiente para distribuir.”
“Chamo pobreza a uma situação de
privação por falta de recursos. Privação é alguém não ter as suas necessidades
básicas satisfeitas, por não ter recursos ou por outras razões, por ser
toxicómano, por exemplo, ou por não saber gerir os seus bens. Ora, as soluções
para estes dois casos são completamente diferentes. Num, é preciso ajudar a
pessoa a ter recursos, no outro, é preciso ajudar a gerir os recursos que tem.
A privação precisa de uma resposta imediata. Não se pode dizer a uma pessoa que
tem fome: “tire um curso de formação profissional, arranje um emprego e depois
coma.”
“A pobreza só se resolve quando o pobre
ganha autonomia. A pobreza é uma das formas de exclusão social, mas há outras:
o isolamento pode afetar idosos ricos, excluídos da sociedade, não por falta de
recursos. Não se encontram novas formas de pobreza, há novas formas de exclusão
social: dos idosos, dos imigrantes, dos portadores de doenças psiquiátricas,
onde se incluem os toxicodependentes, alcoólicos, doentes mentais e outros
comportamentos destrutivos como a prostituição.”
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