Depois de décadas a
identificar as falhas no sistema de acolhimento de refugiados, como consultora
do Alto Comissariado da ONU para os Refugiados e em diversos organismos gregos,
Lora Pappa percebeu que só tinha uma
opção. “Começámos do zero, decidimos
fazer o que ninguém estava a fazer”. Em 2010, fundou a ONG METAdrasi - Ação de Migração e
Desenvolvimento - com o objetivo de colmatar lacunas ao nível do acolhimento e
da integração de refugiados e imigrantes na Grécia. A intervenção da METAdrasi tem incidido sobretudo na
disponibilização de serviços de interpretação a refugiados e migrantes que
chegam à Grécia e na assistência a crianças desacompanhadas.
Hoje em dia, a METAdrasi é reconhecida pelos
requerentes de asilo, refugiados e migrantes como o principal recurso para a
interpretação comunitária na Grécia. Está também ativamente envolvida em
múltiplas ações que dão resposta às necessidades dos grupos mais vulneráveis,
como é o caso das crianças que chegam à Grécia desacompanhadas. Com o propósito
de identificar soluções para os problemas que resultam da estadia prolongada
desses menores em centros de detenção, ou pior ainda, nas ruas ou em zonas
fronteiriças, protegendo-as contra potenciais riscos de exposição ao tráfico ou
exploração de menores, a associação criou um conjunto de equipas de
acompanhamento que procuram colocar as crianças em condições de segurança, e
simultaneamente, tentam encontrar famílias de acolhimento. Beneficiaram deste
apoio até à data mais de 3700 crianças.
“Quando uma criança
sobreviveu à guerra e depois sobreviveu a um naufrágio, quando se perdeu dos
pais e nem sabe se ainda tem família, tem de aparecer um adulto que perceba que
tem de começar por lhe lembrar que é uma criança.”
“Muitas vezes elas
não sabem que os pais morreram, só sabem que se perderam deles.
É preciso
dar-lhes tempo até poderem decidir por si próprias. Outras vezes viram os pais
morrer, sabem que se afogaram. Mas para podermos avançar e requerer o asilo
exigem-nos corpos e certificados de óbito… Como é que explica aos burocratas em
Bruxelas que os corpos foram comidos pelos peixes? (…) O "monstro" da
burocracia não se compadece com a realidade.”
“O que eu mais queria era que o nosso
trabalho deixasse de ser necessário”, diz a ativista, que esteve em
Lisboa no passado mês de junho, para receber o Prémio do Centro Norte-Sul do
Conselho da Europa, que, desde há 21 anos, distingue anualmente duas pessoas que promovem a solidariedade entre os hemisférios
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