A Comissão Nacional
Justiça e Paz (CNJP) denunciou a desigualdade na repartição de sacrifícios em
Portugal e alertou para o fosso crescente entre ricos e pobres.
Em maio, o Instituto
Nacional de Estatística (INE) revelou que o fosso entre as famílias portuguesas
com maiores rendimentos e as de mais baixos recursos aumentou entre 2004 e
2014: 20%
da população com maior rendimento recebia aproximadamente 6 vezes o rendimento
dos 20% da população com o rendimento mais baixo. Em 2015 26.7% da população residente em
Portugal encontrava-se em risco de pobreza ou exclusão social, 21.6% em situação de privação material e 9.6%
em situação de privação material severa.
Também na mesma altura a Rede Europeia Anti-Pobreza divulgou Indicadores europeus e nacionais sobre pobreza,
tendo concluído que se agravou o
fosso entre ricos e pobres e o rendimento das famílias recuou 10 anos. A União
Europeia contabiliza 21,4 milhões de desempregados e 121 milhões em risco de
pobreza ou exclusão social. Considera também assustador o número de crianças
que, em Portugal, se encontra em situação de pobreza e/ou exclusão social, os
números da emigração, os números do desemprego jovem e o número
surpreendentemente alto de trabalhadores pobres, que evidencia uma mão-de-obra
mal paga e o predomínio do emprego precário.
Em simultâneo, eram divulgados dados na imprensa , citando um estudo da DECO, sobre a
disparidade de salários em Portugal: em 10 das maiores empresas do país, os trabalhadores
recebem em média um salário 30 vezes inferior ao do patrão. Em 2015, os casos
extremos verificaram-se na Jerónimo Martins, cujo CEO ganhou 90 vezes mais do
que o salário médio dos seus trabalhadores, na Galp, 72 vezes mais e na Sonae,
70 vezes mais. Na EDP, o salário fixo do CEO, António Mexia, subiu, em
2016, de 600 mil para 800 mil euros, mais 33%, ao qual se soma uma componente
variável, num total que pode ascender a 2,6 milhões anuais (cerca de 7 mil
euros por dia).
“Uma desigualdade na repartição de sacrifícios necessários que
prejudique os mais pobres ofende elementares sentimentos de justiça e o
princípio da solicitude preferencial pelos mais pobres que deve orientar a ação
do Estado”, refere o organismo laical ligado à Conferência Episcopal Portuguesa. “Níveis excessivos e crescentes de
desigualdade prejudicam a coesão social e o sentido de pertença à empresa e à
comunidade global”.
Salienta também a “redução de rendimentos, mais acentuada
entre os mais pobres do que entre a classe média”, “a redução de apoios
sociais, precisamente quando eles eram mais necessários” e “nas
maiores empresas portuguesas, a desproporção entre salários dos gestores e
trabalhadores que se acentuou nos últimos anos. Em 2015, os presidentes
executivos das empresas cotadas viram os seus salários subir, em média, mais de
14%, quando os dos trabalhadores subiram, em média, 4%.”
Para a CNJP, “importa
alertar para a necessidade de outra atenção aos mais pobres, também desprovidos
de projeção mediática e força política e eleitoral”.
Portugal é um dos países com maior desigualdade social da
Europa e tem taxas de pobreza assalariada acima dos 10%. Ao mesmo tempo que nos
últimos anos se multiplicaram salários milionários para poucas centenas de
gestores, um décimo dos trabalhadores ganha tão pouco que, mesmo tendo emprego,
não consegue sair do limiar de pobreza. Limitar a diferença entre salários é
uma forma de combater esta ofensa.
Uma achega mais para reflexão:
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