Citando o Papa Francisco na encíclica
Laudato Si: sobre o cuidado da Casa Comum:
Existem formas de poluição que afectam
diariamente as pessoas. A exposição aos poluentes atmosféricos produz uma vasta
gama de efeitos sobre a saúde, particularmente dos mais pobres, e provocam
milhões de mortes prematuras. Adoecem, por exemplo, por causa da inalação de
elevadas quantidades de fumo produzido pelos combustíveis utilizados para
cozinhar ou aquecer-se. A isto vem juntar-se a poluição que afecta a todos,
causada pelo transporte, pelos fumos da indústria, pelas descargas de
substâncias que contribuem para a acidificação do solo e da água, pelos
fertilizantes, insecticidas, fungicidas, pesticidas e agro-tóxicos em geral. Na
realidade a tecnologia, que, ligada à finança, pretende ser a única solução dos
problemas, é incapaz de ver o mistério das múltiplas relações que existem entre
as coisas e, por isso, às vezes resolve um problema criando outros. (n.20)
A terra, nossa casa, parece transformar-se cada vez mais num
imenso depósito de lixo. Em muitos lugares do planeta, os idosos recordam com
saudade as paisagens de outrora, que agora vêem submersas de lixo. Tanto os
resíduos industriais como os produtos químicos utilizados nas cidades e nos
campos podem produzir um efeito de bioacumulação nos organismos dos moradores
nas áreas limítrofes, que se verifica mesmo quando é baixo o nível de presença
dum elemento tóxico num lugar. Muitas vezes só se adoptam medidas quando já se
produziram efeitos irreversíveis na saúde das pessoas. (n.21)
Outros indicadores da situação actual têm a ver
com o esgotamento dos recursos naturais. É bem conhecida a impossibilidade de
sustentar o nível actual de consumo dos países mais desenvolvidos e dos sectores
mais ricos da sociedade, onde o hábito de desperdiçar e jogar fora atinge
níveis inauditos. Já se ultrapassaram certos limites máximos de exploração do
planeta, sem termos resolvido o problema da pobreza. (n.27)
Enquanto a qualidade da água disponível piora
constantemente, em alguns lugares cresce a tendência para se privatizar este
recurso escasso, tornando-se uma mercadoria sujeita às leis do mercado. Na
realidade, o acesso à água potável e segura é um direito humano essencial,
fundamental e universal, porque determina a sobrevivência das pessoas e,
portanto, é condição para o exercício dos outros direitos humanos. Este
mundo tem uma grave dívida social para com os pobres que não têm acesso à água
potável, porque isto é negar-lhes o direito à vida radicado na sua
dignidade inalienável. (n.30)
Uma maior escassez de água provocará o aumento do
custo dos alimentos e de vários produtos que dependem do seu uso. Alguns
estudos assinalaram o risco de sofrer uma aguda escassez de água dentro de
poucas décadas, se não forem tomadas medidas urgentes. Os impactos ambientais
poderiam afectar milhares de milhões de pessoas, sendo previsível que o
controle da água por grandes empresas mundiais se transforme numa das
principais fontes de conflitos deste século. (n.31)
Tendo em conta que o ser humano também é uma criatura
deste mundo, que tem direito a viver e ser feliz e, além disso, possui uma
dignidade especial, não podemos deixar de considerar os efeitos da degradação
ambiental, do modelo actual de desenvolvimento e da cultura do descarte sobre a
vida das pessoas. (n.43)
Nota-se hoje, por exemplo, o crescimento desmedido e
descontrolado de muitas cidades que se tornaram pouco saudáveis para viver,
devido não só à poluição proveniente de emissões tóxicas mas também ao caos
urbano, aos problemas de transporte e à poluição visiva e acústica. Muitas
cidades são grandes estruturas que não funcionam, gastando energia e água em
excesso. Há bairros que, embora construídos recentemente, apresentam-se
congestionados e desordenados, sem espaços verdes suficientes. Não é
conveniente para os habitantes deste planeta viver cada vez mais submersos de
cimento, asfalto, vidro e metais, privados do contacto físico com a natureza.
(n.44)
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