“Hoje, o contexto de crise económica,
infelizmente, favorece o emergir de comportamentos de hostilidade e de não
acolhimento. Nalgumas partes do mundo erguem-se muros e barreiras. [...]
Contudo o fecho não é uma solução, pelo contrário, acaba por favorecer os
tráficos criminosos. A única solução é a solidariedade. Solidariedade com o
migrante, solidariedade com o estrangeiro” - Papa Francisco
sábado, 30 de dezembro de 2017
sexta-feira, 22 de dezembro de 2017
Natal pós-capital?
Nestas festas natalícias, serão oferecidos smartphones
para cães e impressoras 3D de panquecas que
lhe permite comer, todas as manhãs, a Mona Lisa, o Taj Mahal ou o traseiro do
seu cão. Por tralhas como essas estamos transformando em lixo o planeta vivo e as nossas próprias
perspetivas de vida. Tudo isso precisa acabar. Há alternativa: uma vida privada
frugal e bens comuns refinados. Quem se atreve?
A promessa de luxo privado para todos não pode ser cumprida: não existe nem
espaço físico nem espaço ecológico para isso
Todo mundo quer tudo – como é que isso pode dar certo?
A promessa do crescimento económico é de que os pobres poderão viver como ricos; e os ricos, como oligarcas. Mas nós já estamos atingindo os
limites físicos do planeta que nos sustenta. Desastres climáticos, desertificação do solo, colapso de habitats e espécies, mar de plástico: tudo causado
pelo excesso de consumo.
Mas o crescimento deve
continuar: esse é o imperativo político em todos os lugares. E temos de ajustar
os nossos gostos, em nome da autonomia e da escolha – o marketing usa as últimas descobertas da neurociência para destruir nossas defesas. Em cada geração, muda a
referência do consumo
normalizado. Há trinta anos, era ridículo comprar água em garrafa, pois
a água de torneira é limpa e abundante. Hoje, no mundo todo, usamos um milhão
de garrafas plásticas em cada minuto.
Quem se identifica como consumidor consciente usa mais energia e carbono do
que quem não se assume como tal
A promessa é que, pelo consumismo verde, podemos reconciliar crescimento perpétuo com sobrevivência planetária. Mas uma
série de pesquisas revela que não há diferença significativa entre as pegadas ecológicas de pessoas que cuidam e que não cuidam dos
seus impactos. Quem se
identifica como consumidor consciente usa mais energia e carbono
do que quem não se assume como tal. Porque a consciência ambiental tende a ser mais alta entre pessoas ricas. Não são as atitudes,
mas o rendimento que
determina nossos impactos no planeta. Quanto mais ricos, maior a
nossa pegada, a
despeito das nossas boas intenções. Aqueles que se vêem como consumidores verdes, dizem as pesquisas,
“focam principalmente em comportamentos que têm benefícios relativamente
pequenos”. Nada disso significa que não devemos tentar
reduzir nossos impactos,
mas precisamos ter consciência dos limites desse exercício. Nosso comportamento
dentro do sistema não consegue mudar os resultados desse sistema. É o sistema
que precisa de ser mudado.
Uma pesquisa da Oxfam sugere que o 1% mais rico produz 175 vezes mais carbono que os 10% mais pobres. Como podemos, num mundo em que supostamente todos aspiram a altos rendimentos, evitar transformar a Terra numa bola de sujeira, da qual depende toda a prosperidade?
Empresas e governos são todos procuradores do verdadeiro problema:
crescimento perpétuo num planeta que não está crescendo
Aqueles que justificam esse sistema insistem em que
o crescimento
económico é essencial para o alívio da pobreza. Mas um artigo da World Economic Review afirma que os 60% mais pobres do mundo recebem apenas 5% do rendimento adicional gerado
pelo aumento do PIB.
Disso resulta que são precisos 111 dólares de crescimento para cada dólar de redução da pobreza. Essa é a razão por que, seguindo a tendência atual,
seriam necessários 200 anos para garantir que todo o mundo receba 5 dólares por
dia.
A essa altura, a renda média per capita terá alcançado 1 milhão de dólares por
ano, e a economia será
175 vezes maior do que é hoje. Isso não é uma fórmula para alívio da pobreza. É uma fórmula para a destruição de tudo e de todos.
Consumismo verde, crescimento sustentável: isso tudo é ilusão, destinada a
justificar um modelo económico que nos está conduzindo à catástrofe
Quando você ouve que alguma coisa faz sentido do ponto de vista económico, isso
significa que é o oposto do senso comum. Aqueles homens e mulheres sensíveis
que governam os tesouros e bancos centrais do mundo, que vêem como normal e
necessário um crescimento indefinido
do consumo, estão alucinados, esmagando as maravilhas do mundo vivo, destruindo
a prosperidade das gerações futuras para sustentar um conjunto de números que
têm uma relação cada vez menor com o bem-estar geral. O sistema atual, baseado em luxo privado e imundície pública, vai nos levar à
miséria: sob esse modelo, luxo e privação são uma só besta com duas cabeças.
Necessitamos de um sistema diferente, enraizado não
em abstrações económicas mas
em realidades físicas, que estabeleça os parâmetros pelos quais nós possamos julgar
da sua saúde. Necessitamos construir um mundo no qual o crescimento não seja um
imperativo, um mundo de frugalidade privada e luxo público.
(O artigo é de George Monbiot, jornalista, escritor e ambientalista do Reino Unido,
publicado por The Guardian.)
sábado, 9 de dezembro de 2017
Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos
O Dia dos Direitos Humanos, lembrado a 10 de dezembro, marca
a data em que, em 1948, a Declaração Universal dos Direitos Humanos foi
proclamado pela Assembleia Geral da ONU.
Os direitos
humanos são direitos inerentes a todos os seres humanos, independentemente de
raça, sexo, nacionalidade, etnia, idioma, religião ou qualquer outra condição.
A
Declaração Universal chega aos seus 70 anos de existência num tempo de desafios
crescentes. O ódio, a discriminação e a violência estão por todo o lado.
Centenas de milhões de homens e mulheres estão privados das condições básicas
de subsistência e de oportunidades. São chocantes as notícias sobre as novas
formas de escravatura. As deslocações forçadas de muitos milhões de pessoas em
todo o mundo geram violações dos direitos humanos numa escala sem precedentes.
São visíveis os retrocessos de direitos humanos, incluindo os direitos das
mulheres e de muitas minorias, nas Américas, na Ásia, na África e até na
Europa. Estamos a testemunhar, em diversas partes do mundo, à destruição de
medidas destinadas a acabar com a discriminação e a promoção duma maior
justiça.
“As Nações Unidas tem proclamado extensas listas de Direitos Humanos, mas a imensa maioria da humanidade não tem mais que os direitos de: ver, ouvir, calar. Que tal começarmos a exercer o jamais proclamado direito de sonhar?” – Eduardo Galeano
Declaração Universal dos Direitos
Humanos
Artigo 1:Todos os seres humanos nascem livres e
iguais em dignidade e direitos. São dotados de razão e consciência e devem agir
em relação uns aos outros com espírito de fraternidade.
Artigo 2: 1. Todo ser humano tem capacidade para
gozar os direitos e as liberdades estabelecidos nesta Declaração, sem distinção
de qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião
política ou de outra natureza, origem nacional ou social, riqueza, nascimento,
ou qualquer outra condição. 2. Não será também feita nenhuma distinção fundada
na condição política, jurídica ou internacional do país ou território a que
pertença uma pessoa, quer se trate de um território independente, sob tutela,
sem governo próprio, quer sujeito a qualquer outra limitação de soberania.
Artigo 3:Todo ser humano tem direito à vida, à
liberdade e à segurança pessoal.
Artigo 4: Ninguém será mantido em escravidão ou
servidão; a escravidão e o tráfico de escravos serão proibidos em todas as suas
formas.
Artigo 5: Ninguém será submetido à tortura, nem
a tratamento ou castigo cruel, desumano ou degradante.
Artigo 6: Todo ser humano tem o direito de ser,
em todos os lugares, reconhecido como pessoa perante a lei.
Artigo 7:Todos são iguais perante a lei e têm
direito, sem qualquer distinção, a igual proteção da lei. Todos têm direito a
igual proteção contra qualquer discriminação que viole a presente Declaração e
contra qualquer incitamento a tal discriminação.
Artigo 8:Todo ser humano tem direito a receber
dos tribunais nacionais competentes remédio efetivo para os atos que violem os
direitos fundamentais que lhe sejam reconhecidos pela constituição ou pela lei.
Artigo 9: Ninguém será arbitrariamente preso,
detido ou exilado.
Artigo 10: Todo ser humano tem direito, em plena
igualdade, a uma justa e pública audiência por parte de um tribunal
independente e imparcial, para decidir seus direitos e deveres
ou fundamento de qualquer acusação criminal contra ele.
Artigo 11: 1.Todo ser humano acusado de um ato
delituoso tem o direito de ser presumido inocente até que a sua culpabilidade
tenha sido provada de acordo com a lei, em julgamento público no qual lhe
tenham sido asseguradas todas as garantias necessárias à sua defesa. 2. Ninguém
poderá ser culpado por qualquer ação ou omissão que, no momento, não constituíam
delito perante o direito nacional ou internacional. Também não será imposta
pena mais forte de que aquela que, no momento da prática, era aplicável ao ato
delituoso.
Artigo 12: Ninguém será sujeito à interferência
na sua vida privada, na sua família, no seu lar ou na sua correspondência, nem
a ataque à sua honra e reputação. Todo ser humano tem direito à proteção da lei
contra tais interferências ou ataques.
Artigo 13: 1. Todo ser humano tem direito à
liberdade de locomoção e residência dentro das fronteiras de cada
Estado. 2. Todo ser humano tem o direito de deixar qualquer país,
inclusive o próprio e a esse regressar.
Artigo 14: 1. Todo ser humano, vítima de
perseguição, tem o direito de procurar e de gozar asilo em outros
países. 2. Esse direito não pode ser invocado em caso de perseguição
legitimamente motivada por crimes de direito comum ou por atos contrários aos
objetivos e princípios das Nações Unidas.
Artigo 15: 1. Todo ser humano tem direito a uma
nacionalidade. 2. Ninguém será arbitrariamente privado de sua
nacionalidade, nem do direito de mudar de nacionalidade.
Artigo 16: 1. Os homens e mulheres de maior
idade, sem qualquer restrição de raça, nacionalidade ou religião, têm o direito
de contrair matrimônio e fundar uma família. Gozam de iguais direitos em
relação ao casamento, sua duração e sua dissolução.
2. O casamento não será válido senão com o livre e pleno consentimento dos nubentes. 3. A família é o núcleo natural e fundamental da sociedade e tem direito à proteção da sociedade e do Estado.
2. O casamento não será válido senão com o livre e pleno consentimento dos nubentes. 3. A família é o núcleo natural e fundamental da sociedade e tem direito à proteção da sociedade e do Estado.
Artigo 17: 1. Todo ser humano tem direito à
propriedade, só ou em sociedade com outros. 2. Ninguém será
arbitrariamente privado de sua propriedade.
Artigo 18: Todo ser humano tem direito à
liberdade de pensamento, consciência e religião; esse direito inclui a
liberdade de mudar de religião ou crença e a liberdade de manifestar essa
religião ou crença pelo ensino, pela prática, pelo culto em público ou em
particular.
Artigo 19: Todo ser humano tem direito à
liberdade de opinião e expressão; esse direito inclui a liberdade de, sem
interferência, ter opiniões e de procurar, receber e transmitir informações e
ideias por quaisquer meios e independentemente de fronteiras.
Artigo 20: 1. Todo ser humano tem direito à
liberdade de reunião e associação pacífica. 2. Ninguém pode ser obrigado a
fazer parte de uma associação.
Artigo 21: 1. Todo ser humano tem o direito de
tomar parte no governo de seu país diretamente ou por intermédio de
representantes livremente escolhidos. 2. Todo ser humano tem igual direito
de acesso ao serviço público do seu país. 3. A vontade do povo será a base
da autoridade do governo; essa vontade será expressa em eleições periódicas e
legítimas, por sufrágio universal, por voto secreto ou processo equivalente que
assegure a liberdade de voto.
Artigo 22: Todo ser humano, como membro da
sociedade, tem direito à segurança social, à realização pelo esforço nacional,
pela cooperação internacional e de acordo com a organização e recursos de cada
Estado, dos direitos econômicos, sociais e culturais indispensáveis à sua
dignidade e ao livre desenvolvimento da sua personalidade.
Artigo 23: 1. Todo ser humano tem direito ao
trabalho, à livre escolha de emprego, a condições justas e favoráveis de
trabalho e à proteção contra o desemprego. 2. Todo ser humano, sem
qualquer distinção, tem direito a igual remuneração por igual trabalho. 3.
Todo ser humano que trabalha tem direito a uma remuneração justa e satisfatória
que lhe assegure, assim como à sua família, uma existência compatível com a
dignidade humana e a que se acrescentarão, se necessário, outros meios de
proteção social. 4. Todo ser humano tem direito a organizar sindicatos e a
neles ingressar para proteção de seus interesses.
Artigo 24: Todo ser humano tem direito a repouso
e lazer, inclusive a limitação razoável das horas de trabalho e a férias
remuneradas periódicas.
Artigo 25: 1. Todo ser humano tem direito a um
padrão de vida capaz de assegurar a si e à sua família saúde, bem-estar,
inclusive alimentação, vestuário, habitação, cuidados médicos e os serviços
sociais indispensáveis e direito à segurança em caso de desemprego, doença
invalidez, viuvez, velhice ou outros casos de perda dos meios de subsistência
em circunstâncias fora de seu controle. 2. A maternidade e a infância têm
direito a cuidados e assistência especiais. Todas as crianças, nascidas dentro
ou fora do matrimônio, gozarão da mesma proteção social.
Artigo 26: 1. Todo ser humano tem direito à
instrução. A instrução será gratuita, pelo menos nos graus elementares e
fundamentais. A instrução elementar será obrigatória. A instrução
técnico-profissional será acessível a todos, bem como a instrução superior,
esta baseada no mérito. 2. A instrução será orientada no sentido do pleno
desenvolvimento da personalidade humana e do fortalecimento do respeito pelos
direitos do ser humano e pelas liberdades fundamentais. A instrução promoverá a
compreensão, a tolerância e a amizade entre todas as nações e grupos raciais ou
religiosos e coadjuvará as atividades das Nações Unidas em prol da manutenção
da paz. 3. Os pais têm prioridade de direito na escolha do gênero de
instrução que será ministrada a seus filhos.
Artigo 27: 1. Todo ser humano tem o direito de
participar livremente da vida cultural da comunidade, de fruir as artes e de
participar do progresso científico e de seus benefícios. 2. Todo ser humano tem
direito à proteção dos interesses morais e materiais decorrentes de qualquer
produção científica literária ou artística da qual seja autor.
Artigo 28: Todo ser humano tem direito a uma
ordem social e internacional em que os direitos e liberdades estabelecidos na
presente Declaração possam ser plenamente realizados.
Artigo 29: 1. Todo ser humano tem deveres para
com a comunidade, na qual o livre e pleno desenvolvimento de sua personalidade
é possível. 2. No exercício de seus direitos e liberdades, todo ser humano
estará sujeito apenas às limitações determinadas pela lei, exclusivamente com o
fim de assegurar o devido reconhecimento e respeito dos direitos e liberdades
de outrem e de satisfazer as justas exigências da moral, da ordem pública e do
bem-estar de uma sociedade democrática. 3. Esses direitos e liberdades não
podem, em hipótese alguma, ser exercidos contrariamente aos objetivos e
princípios das Nações Unidas.
Artigo 30: Nenhuma disposição da presente
Declaração poder ser interpretada como o reconhecimento a qualquer Estado,
grupo ou pessoa, do direito de exercer qualquer atividade ou praticar qualquer
ato destinado à destruição de quaisquer dos direitos e liberdades aqui
estabelecidos.
sexta-feira, 1 de dezembro de 2017
Que fizemos do pássaro azul que nos transporta?
A
Comissão Nacional Justiça e Paz (CNJP) acaba de publicar uma Nota, com “Um apelo face à seca que nos sufoca”.
Tendo
em conta que Portugal está, mais uma vez, em situação de seca extrema, “Temos
de repensar e refazer o nosso estilo de vida: poupar, racionalizar e partilhar,
reutilizar a água de que dispomos” – refere a Nota.
Será
que estamos verdadeiramente conscientes de que não podemos adiar, mais uma vez,
a tarefa para a qual todos somos convocados, sob pena de prejudicar gravemente
o nosso futuro comum?
Um apelo face à seca que nos sufoca
A
água, um bem precioso, está-se tornando raro à medida que continuam as
agressões do ser humano a este bem comum. Também a “água viva” indica a nossa
sede do transcendente que é também vital para renovar o sentido da nossa
presença no mundo: a água da qual somos todos responsáveis e que é causa de
divisão e de guerra na humanidade.
Num
manifesto intitulado “Avisos dos
Cientistas do Mundo à Humanidade”, cerca de 15.000 cientistas – homens e
mulheres de mais de cem países – alertam, com “considerações academicamente
sustentadas”, para aquilo que o Papa Francisco veementemente nos diz na Laudato
Si’: a Terra e a Humanidade não suportarão, por muito mais tempo, o sofrimento
que cada um e cada uma de nós lhes causamos.
“Que
fizemos do pássaro azul que nos transporta?” é a interpelação que nos faz esse
grupo de cientistas referindo o que há anos escreveu Tich Nhat Hanh, um monge
budista vietnamita: a Terra é o «gigantesco pássaro que nos leva numa viajem
extraordinária».
Já
em 2008, um Relatório da Comissão Independente sobre a População e Qualidade de
Vida publicado em diversas línguas, na secção intitulada “Respeitar os limites
da capacidade de carga da Terra” sublinha “o caráter crucial da água tanto para
a qualidade de vida como para a própria sobrevivência humana”, perguntando:
“Terão o clima, os rios e oceanos de todo o mundo capacidade para enfrentarem,
sem um colapso catastrófico, os padrões, presentes e futuros, de produção e
consumo?
Estaremos
a caminho de ultrapassar os limites da Natureza e, se assim for, que poderemos
fazer para nos mantermos dentro deles?”. Passados quase 30 anos sobre estas
interpelações constatamos que estes factos se estão a passar, e mais cedo do
que alguma vez esperaríamos.
Somos
água e não podemos sobreviver sem ela: 60% do nosso corpo é água (70% do nosso
cérebro, 80% do nosso sangue); apenas 3% da água em todo o mundo é potável,
menos de 1% é acessível para consumo; uma em 5 pessoas em todo o mundo não tem
acesso a água potável. A UNICEF indica que uma criança morre todos os quinze
segundos por doenças ligadas à água não potável. Há mais deslocados por causa
da água contaminada do que populações que se deslocam por causa das guerras. Em
média, cada português gasta por dia o dobro da quantidade máxima de água
recomendada pelas Nações Unidas.
O
nosso país está neste momento em situação de seca extrema em grande parte do
seu território, uma seca sufocante e maligna, que está e continuará a ter
repercussões irreversíveis. Seremos apenas, e mais uma vez, vítimas de um
problema mundial ou podemos lançar uma interpelação entre nós todos e a cada
um: “Que fizemos da água de que precisamos para, simplesmente, podermos
sobreviver?” A Comissão Nacional Justiça e Paz propõe que a questão seja
colocada no presente: Que queremos fazer com a água que é nosso bem comum?
Governo, responsáveis autárquicos e especialistas nesta matéria têm o
diagnóstico feito. Algumas medidas “de recurso” têm sido tomadas. A sociedade
civil está alertada para o facto de que temos de repensar e refazer o nosso
estilo de vida: poupar, racionalizar e partilhar, reutilizar a água de que
dispomos. Um alerta tão veemente pressupõe uma mudança da nossa mentalidade
consumista, imediatista e de desperdício, de horizontes estreitos,
irresponsável e narcísica.
Precisamos
de “um olhar global” mas simultaneamente de um “agir local”, aqui e agora, nas
nossas casas, nas escolas, nas comunidades e suas instituições. Precisamos de
uma pedagogia [de utilização] da água! Enquanto cidadãs e cidadãos - incluindo
crianças, jovens, idosos, nas cidades ou em zonas rurais, em empresas ou em
instituições de solidariedade – tomemos em nossos ombros e em conjunto esta
urgência, respondendo-lhe com um projeto de cidadania. Reeduquemo-nos uns aos
outros porque todos temos iguais responsabilidades, embora seja certo que
muitos estão a sofrer mais do que outros. “Todos somos pobres!” afirmou o Papa
Francisco há dias.
A
CNJP reconhece os gestos de solidariedade – individual e coletiva – perante os
desastres ambientais que nos assolam. Mas vem, simultaneamente, interpelar
novamente os cristãos e a sociedade civil: que a Água que nos dá a Vida, humana
e espiritualmente, seja por todos nós considerada – mulheres e homens de boa
vontade - um bem da Criação que nos foi confiado, limitado e escasso, é certo,
mas a que todos sem exceção temos direito.
Que
tenhamos Vida para Todos, e uma Vida em Solidária Abundância!
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