"Nenhum
lucro é legítimo quando não se dirige ao objetivo da promoção integral da
pessoa humana, o destino universal dos bens e a opção preferencial pelos pobres", afirma um documento do
Vaticano intitulado “Oeconomicae et quaestiones
pecuniariae”, divulgado no passado dia 17 de maio.
“Nunca como hoje, as
temáticas económicas e financeiras atraem a nossa atenção, em virtude do
crescente impacto que o mercado exerce em relação ao bem-estar material de boa
parte da humanidade.” – assim começa
o documento. "É hora de iniciar a recuperação do que é
autenticamente humano, para expandir os horizontes da mente e do coração",
observa. "É dever dos agentes
competentes e das pessoas responsáveis desenvolver novas formas de economia
e finanças, com regras e regulamentos para o progresso do bem comum".
O
documento, cujo subtítulo é "Considerações para um discernimento ético sobre alguns aspetos
do sistema económico-financeiro atual", refere que o sistema económico deve
"visar, acima de tudo, a promoção da
qualidade de vida global que, antes da expansão indiscriminada dos lucros, leva
ao bem-estar integral de cada um e da pessoa como um todo".
Enquanto
o documento reconhece que muitos investidores são "animados por intenções boas e corretas", afirma também que
os mercados
globais se tornaram "um lugar onde o egoísmo e o abuso de poder conseguem prejudicar muito a
comunidade”. Além
disso, afirma que, embora algumas técnicas de criação de riqueza moderna não
sejam "diretamente inaceitáveis do
ponto de vista ético", podem ser "exemplos próximos à imoralidade, ou seja, geram o tipo de abuso e
engano que pode prejudicar as partes menos favorecidas".
O
documento é mais enfático ao falar do modo como se dá a formação dos que gerem
o sistema financeiro, dizendo que "o objetivo de meramente gerar lucro cria uma
lógica perversa e seletiva que muitas vezes favorece o avanço de empresários
muito capacitados, mas ambiciosos e sem escrúpulos". Essa
formação, diz o documento, ajuda a "criar
e difundir uma cultura profundamente amoral - na qual, muitas
vezes, não se hesita em cometer um crime quando os benefícios previstos
ultrapassam a pena esperada". "Esse comportamento polui gravemente a saúde de todo sistema económico-social,
põe em perigo a funcionalidade e prejudica em grande medida a
realização eficaz do bem comum, sobre a qual se baseiam todas as
formas de instituição social".
Dentre
as práticas financeiras mais criticadas está o uso de contas no exterior para evitar a tributação sobre o património.
"Hoje, mais da metade do mundo
comercial é orquestrado por pessoas notáveis que reduzem sua carga tributária ao
transferir a receita de um local para o outro. Parece evidente que todos
removeram recursos consideráveis da economia real e contribuíram para a criação
de sistemas
económicos baseados na desigualdade".
"A evasão fiscal por
parte dos principais interessados, os grandes intermediários financeiros, que
se movem no mercado, indica uma remoção injusta de recursos da economia real, o
que prejudica a sociedade civil como um todo", acrescenta.
O
documento conclui chamando as pessoas, até mesmo os consumidores ainda modestos,
a trabalhar no sentido de tornar o sistema financeiro mais justo. "Diante da solidez e da abrangência dos sistemas económico-financeiros atuais, poderíamos sentir-nos tentados a nos deixar levar pelo cinismo e achar que com a pouca força que
temos pouco pode ser feito”,
observa. "Na realidade, cada um de
nós pode fazer muito, principalmente se não ficarmos sozinhos".
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