No passado dia 2 de agosto, atingimos o dia da
Sobrecarga da Terra.
O que é que
isso quer dizer?
Quer dizer
que, até esse dia, gastamos todos os
recursos naturais básicos
para sustentar a vida que o nosso
planeta consegue repôr durante um ano. A partir desse dia estamos a gastar a crédito.
Todos os anos é apresentada uma
estimativa sobre o dia em que a Humanidade atinge o limite do uso
sustentável de recursos naturais disponíveis para esse ano, ou seja, o
orçamento natural, habitualmente designado como Overshoot Day. Os valores utilizados
para calcular o Dia da Sobrecarga da Terra são obtidos a partir da
comparação do consumo total da humanidade por ano (pegada ecológica) com a
capacidade da Terra em regenerar os recursos naturais renováveis por ano
(biocapacidade). Para este cálculo, são usadas estatísticas das Nações Unidas.
Em quase 50
anos de cálculos, 2017 é o ano em que este dia chega mais cedo. Em 2016, foi a
8 de agosto. No ano anterior, a 13, em 2014, a 19 e em 2013, a 20 de agosto.
Um dado
assustador é comparar com décadas passadas. Em 1971, foi no dia 21 de dezembro.
Desde então, todos os anos, ela chega antes. Ou seja, a cada ano que passa,
todos nós – os seres humanos – estamos explorando os recursos naturais do
planeta com mais voracidade e sem dar tempo para a Terra os recompôr.
“Estávamos no
verde e agora entramos no vermelho ou no cheque especial. O que gastaremos
daqui para frente será violentamente arrancado da Terra para atendermos as
indispensáveis demandas humanas e, o que é pior, manter o nível de consumo
perdulário dos países ricos.
A esse fato se costuma chamar de “Pegada Ecológica da
Terra”. Por ela, se mede a quantidade de terra fértil e de mar necessários para
gerar os meios de vida indispensáveis como água, grãos, carnes, peixes, fibras,
madeira, energia renovável e outros mais. Dispomos de 12 bilhões de hectares de
terra fértil (florestas, pastagens, cultivos) mas, na verdade, precisaríamos de
20 bilhões.
Como cobrir este défice de 8 bilhões? Sugando mais e
mais a Terra….mas até quando? Estamos lentamente descapitalizando a Mãe Terra.
Não sabemos quando acontecerá o seu colapso. Mas a continuar com o nível de
consumo e desperdício dos países opulentos, ele virá com consequências nefastas
para todos.
(…) Essa Sobrecarga Ecológica é um empréstimo que
estamos tomando das gerações futuras para o nosso uso e desfrute atual. E
quando chegar a vez deles, em que condições vão satisfazer as suas necessidades
de alimento, água, fibras, grãos, carnes e madeira? Poderão herdar um planeta
depauperado.
(…) O que vigora no mundo é uma perversa injustiça
social, cruel e desapiedada: 15% dos que vivem nas regiões opulentas do Norte
do planeta dispõe de 75% dos bens e serviços naturais e 40% da terra fértil.
Alguns milhões, quais cães famélicos, devem esperar as migalhas que caem de
suas bem servidas mesas..
Na verdade, a “Sobrecarga da Terra” resulta do tipo de
economia delapidadora das “bondades da natureza” como falam os andinos,
desflorestando, poluindo águas e solos, empobrecendo ecossistemas e erodindo a
biodiversidade. Esses efeitos são considerados “externalidades” que não afetam
o lucro e não entram na contabilidade empresarial. Mas afetam a vida presente e
futura.” – assim escreve Leonard Boff (ver crónica na integra AQUI)
Segundo a Zero – Associação Sistema Terrestre
Sustentável, Portugal contribuiu ativamente para esta situação. Se todos os
países tivessem a mesma pegada ecológica que nós, seriam necessários 2,3
planetas.O consumo de alimentos (32%
da pegada global do país) e a mobilidade (18%) encontram-se entre
as atividades humanas diárias que mais contribuem para a pegada ecológica
de Portugal e constituem assim pontos críticos a necessitar de intervenção.
Num mundo onde persiste uma enorme
desigualdade em termos de distribuição de rendimentos e acesso a recursos
naturais, estes dados são claros sobre a necessidade de se produzir e consumir de forma muito
diferente.
O Planeta é a fonte de tudo o que
necessitamos para viver enquanto espécie. O Overshoot Day indica-nos
que estamos a forçar os limites do planeta cada vez com maior intensidade, uma
tendência que é urgente mudar para bem da Humanidade e da sua qualidade de
vida.
É urgente
alterar esta tendência insustentável.
Propostas da ZERO para reduzir o défice ambiental podem ser lidas AQUI
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