“O clima está a mudar: a alimentação e a agricultura também”
é o tema oficial do Dia Mundial da
Alimentação 2016, que
se assiná-la a cada 16 de outubro.
Na
sua mensagem para este dia, o Papa Francisco lembra os “800 milhões de pessoas que ainda passam fome” atualmente.
O
texto, endereçado à Organização das Nações Unidas para a Agricultura e
Alimentação (FAO), questiona um modelo de desenvolvimento que não consegue
impedir as situações de fome e desnutrição. “Já não basta impressionar-se e comover-se diante de quem, em qualquer
latitude, pede o pão de cada dia” - afirma o Papa - “É necessário decidir-se e atuar. Muitas vezes, também enquanto Igreja
Católica, recordamos que os níveis de produção mundial são suficientes para garantir
a alimentação de todos, com a condição de que haja uma justa distribuição”.
Alertando
para as consequências das alterações climáticas, o papa Francisco pede que o Acordo de
Paris “não fique somente nas palavras,
mas se transforme em corajosas decisões concretas”. A mensagem evoca também
as consequências das alterações climáticas para as migrações humanas da
atualidade, falando em “migrantes
climáticos que engrossam as filas
desta caravana dos últimos, dos excluídos, daqueles a quem é negado um papel na
grande família humana”.
O
Papa termina com um apelo à mudança de
rumo, para que “o desenvolvimento não
seja somente uma prerrogativa de poucos nem os bens da criação sejam património
dos poderosos”.
Também a Cáritas Europa, em mensagem para este dia,
realça que “uma em cada nove pessoas em
todo o mundo sofrem de subnutrição crónica”, um flagelo quase
exclusivamente concentrado “nos países em
vias de desenvolvimento”. A “fome e a
pobreza são atualmente as causas principais da imigração forçada e dos fluxos
de deslocados, que ao longo do último ano atingiram o valor recorde de 65
milhões de pessoas”.
O
Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), por seu lado, publicou um
relatório, nesta sexta-feira (14), com a alarmante estatística de que 5 em cada
6 crianças do mundo com menos de 2 anos não recebem nutrição adequada para o
crescimento e desenvolvimento cerebral. A
nutrição infantil durante os primeiros 2 anos de vida é crítica para o
desenvolvimento e a sobrevivência. Apesar de ter havido uma redução da
desnutrição nos últimos 10 anos, o nanismo continua a afetar 156 milhões de
crianças com menos de 5 anos, enquanto, por outro lado, 42 milhões de crianças
estão com sobrepeso ou obesas - um aumento de 11 milhões desde 2000.
Desperdício
alimentar
Em todo o mundo, 33% dos alimentos produzidos para consumo humano são
desperdiçados. Os cálculos da Organização das Nações Unidas para a
Alimentação e Agricultura indicam que os países industrializados desperdiçam
1,3 mil milhões de toneladas de alimentos por ano. O que chegaria para
alimentar os cerca de 925 milhões de pessoas que passam fome no mundo.
Em Portugal, desperdiça-se qualquer coisa como 1
milhão de toneladas de alimentos por ano, ou seja, cada português deita
ao lixo, em média, 132 quilos de comida por ano: 324
mil toneladas perdem-se em casa e 17% da comida é deitada fora ainda antes de
chegar aos consumidores finais. Os números foram
revelados pelo Projeto de Estudo e Reflexão sobre o Desperdício Alimentar, do
Centro de Estudos de Sociologia da Universidade Nova de Lisboa.
Um desperdício que, no conjunto da União Europeia, chega aos
89 milhões de toneladas. Na
Holanda o desperdício por habitante/ano é de 541 quilos, seguido da Bélgica com
345, do Chipre com 327 e de 135 quilos
em Espanha 135 quilos.
Em Portugal, existem várias organizações que combatem ativamente o
desperdício alimentar como a Re-Food e o movimento Zero Desperdício, que recolhem refeições
que de outra forma seriam deitadas ao lixo por restaurantes ou supermercados,
ou a Fruta Feita, que aproveita a fruta com qualidade, mas sem a aparência
necessária para ser comercializada.
Eliminar o desperdício alimentar é uma maneira de
combater a fome, mas também de aproveitar os recursos, trazendo mais
rentabilidade para os agricultores e contribuindo para um meio ambiente mais
sustentável.
O primeiro passo para reduzir o desperdício alimentar
e a perda de géneros alimentares, é levar as pessoas a compreender a existência
do problema e a tomar consciência, por um lado, da influência das alterações
climáticas na diminuição da produção de alimentos e, por outro, do imperativo
de extrairmos, de forma sustentável, um volume cada vez maior de calorias do
solo já cultivado.
A
Assembleia da República decretou 2016 como o Ano Nacional do Combate ao
Desperdício Alimentar.
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