Assim se chama o Estudo da autoria de Carlos Farinha Rodrigues, Rita
Felgueiras e Vítor Junqueira, recentemente publicado pela Fundação
Francisco Manuel dos Santos, que faz uma avaliação das consequências sociais da
crise que Portugal atravessou entre 2009 e 2014, bem como uma análise das
medidas implementadas pelas autoridades públicas para lhes fazer frente.
As conclusões do estudo
mostram que todos os indicadores de pobreza se agravaram durante a crise. A
evolução dos rendimentos, entre 2009 2014, atesta que 10% dos mais ricos
perderam 13% do seu rendimento, enquanto que 10% dos mais pobres perderam 25%.
O número de portugueses mais pobres aumentou para 2 milhões de pessoas. A
intensidade da pobreza aumentou 30%: "os pobres estão ainda mais
pobres".
Entre
os pobres, as crianças e os jovens foram os que mais sofreram: em 2014 um
quarto das crianças estava em situação de pobreza (24,8%).
Pode ler-se no referido Estudo:
DESIGUALDADE E POBREZA DE MÃOS DADAS
Quanto mais desigual,
mais pobre é um país
Olhamos para a forma
desigual como os rendimentos estão distribuídos num país e acabamos a falar
sobre o grau de pobreza existente nesse país. Mas que relação existe entre a desigualdade
e a pobreza? Poderá dizer-se que quanto mais desigual mais pobre é um país? Os
dados sobre o nível de desigualdade e de pobreza de todos os países da União
Europeia mostram que sim.
Há uma forte associação
entre os dois fenómenos: quanto maior é o nível de desigualdade na distribuição
dos rendimentos entre a população, ou seja, quanto mais concentrado está o
dinheiro numa parte da população, mais pobre esse país é. As transformações
ocorridas nos rendimentos familiares e na desigualdade no decorrer do processo
de ajustamento ocorrido entre 2009 e 2014 não poderiam deixar de se repercutir
na alteração dos indicadores de pobreza. Embora o fenómeno da pobreza, dada a
sua natureza multidimensional, extravase em muito o âmbito das desigualdades,
os dois fenómenos estão profundamente ligados.
Nós temos uma economia
assente em baixos salários. Uma economia com estas características gera
sistematicamente desigualdade e pobreza. Isto significa que não podemos
combater a pobreza de forma efetiva sem ao mesmo tempo combater as
desigualdades.
OS MAIS POBRES FICARAM AINDA MAIS POBRES
Todos os indicadores de pobreza em Portugal agravam-se
durante a crise
O número de portugueses
pobres aumentou entre 2009 e 2014 para 2,02 milhões de pessoas, ou seja, mais
116 mil pessoas do que em 2009. Este número significa que um em cada cinco
portugueses vive com um rendimento mensal abaixo de 422 euros.
Só que não foi este o
único indicador da pobreza que se agravou. Além de ter aumentado o número de
pessoas pobres, também se intensificou a gravidade da pobreza – os pobres estão
ainda mais pobres e o dinheiro que têm mensalmente para gastar é ainda menos.
Entre 2009 e 2014, a intensidade da pobreza aumentou 30%.
O aumento das situações de
pobreza em Portugal nos anos mais recentes acompanhou uma evolução semelhante
registada nos países da União Europeia e da zona euro. Estes resultados não
podem deixar de ser preocupantes, não somente pelo que representam em termos de
retrocesso das condições de vida das populações atingidas pelo agravamento da
pobreza, mas igualmente por traduzirem um claro insucesso da estratégia Europa
2020, que se propunha atingir até 2020 uma redução de 20 milhões de pessoas em
risco de pobreza e exclusão social.
Também a Comissão
Nacional Justiça e Paz emitiu um comunicado sobre este mesmo assunto intitulado
Os mais pobres dos pobres em Portugal. Que
futuro?
“A
pobreza em Portugal tem nome de mulher, criança, jovem, idoso, desempregado/a….”
– refere o comunicado. E continua: “ Afirma o professor Farinha Rodrigues no
presente estudo: «O aumento contínuo do fosso que separa os mais ricos dos mais
pobres constitui o principal traço de evolução das desigualdades ao longo
destes anos de crise». Cabe a cada um de nós sensibilizar a sociedade em geral
para a injustiça que revela esta situação.
Assim, a Comissão Nacional Justiça e Paz
alerta mais uma vez para uma situação que põe em grave risco a coesão social e
a concretização, no nosso país, da Declaração Universal dos Direitos Humanos. A
CNJP acredita também que há futuro para a humanidade e, concretamente, para
Portugal”.
E termina com um desafio: “A Comissão
Nacional Justiça e Paz acredita que há saídas possíveis para situações que
podem sugerir um “beco sem saída”. Recomenda que essas alternativas sejam
divulgadas, nomeadamente pela comunicação social, por organismos públicos e
pela sociedade civil, de forma a trazer esperança, valores de solidariedade, e
sensibilidade ética à sociedade em que vivemos. Assim a CNJP apela a ”todas as
pessoas de boa vontade” para que descubram “aqui e agora” o que, nas situações
da vida quotidiana, nos compele a uma responsabilização e a uma ética global
cada vez mais concretizadas.”
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