No início de Outubro, no
Luxemburgo, reuniram-se delegados de 21 Comissões Justiça e Paz Europeias para
refletir desafios da segurança que a Europa enfrenta no diálogo com
representantes políticos, militares, instituições da União Europeia e da
sociedade civil:
"Segurança da
Europa: Responsabilidade dos Estados, da União e dos Cidadãos"
No final dos trabalhos
aprovaram a seguinte conclusão:
“Na Europa de hoje, muitas
pessoas estão profundamente preocupadas com a segurança. As suas preocupações
são justificadas. Desde ataques terroristas à guerra cibernauta, desde a crise
de refugiados aos efeitos das alterações climáticas, da crescente desigualdade
económica e injustiça social aos elevados níveis de desemprego, desde a crise
da dívida soberana ao Brexit, os Europeus enfrentam desafios de ordem social,
cultural, económica e política que garantiram a segurança na Europa nos últimos
tempos.
A segurança é essencial e
positiva. Protege a dignidade humana a fim de que possa florescer. É uma
condição prévia para a liberdade e para a busca do bem-estar e felicidade. A
verdadeira segurança, portanto, deve ser limitada pelo respeito da justiça e
direitos humanos (cf. Gaudium et Spes, n. 78 e n.81).
Quando a segurança está
separada da justiça e dos direitos humanos, perde esse valor positivo. Em vez
disso, aliena o outro, impede a troca mútua e, por fim, torna-se uma nova causa
de conflito e divisão. A verdadeira segurança só pode existir na paz, e a paz
engloba ser capaz de viver com – e mesmo amar - o próximo, independentemente da
sua nacionalidade, cor, religião ou estrato económico.
Assim as medidas para
proteger a segurança devem ser proporcionais ao respeito pela justiça e direitos
humanos. Quando as leis defendem a dignidade da pessoa humana, unem a sociedade
no respeito mútuo. Quando não o fazem, diminuem o Estado de Direito e minam a
coesão social. O mesmo se aplica no direito internacional.
Alertamos contra a ideia de
que a Europa possa alcançar a segurança para si mesma através da construção de
muros. A natureza das ameaças à segurança da Europa é demasiado diversa e
complexa para que os muros sejam eficazes. Em vez disso, os muros excluem e
discriminam, e criam uma sensação de injustiça. A segurança para a Europa só
será alcançada quando a ordem mundial for justa para toda a população mundial.
É por essa razão que a
segurança da Europa será reforçada através de medidas para tornar o mundo mais
justo. As instituições da Europa têm de continuar a ver para além da crise imediata,
a fim de abordar a verdadeira causa do problema. Isso exige novas ideias que
tenham em conta a nova realidade: a de que vivemos num mundo de recursos
limitados, não ilimitados; que uma ordem mundial baseada em Estados territoriais
não pode controlar o ciberespaço. Não nos esqueçamos de que as ameaças à nossa segurança
surgem tanto do interior da nossa sociedade - se não mais - do que de exterior.
A segurança também é uma
perceção subjetiva. A vida é frágil; nunca podemos estar completamente seguros.
Se estamos receosos e ansiosos, relativamente ao grau de proximidade e veracidade
do perigo, então não nos sentiremos seguros. Temos de ser capazes de distinguir
entre a preocupação justificada sobre as ameaças reais e medos profundos mas
infundados em relação do futuro ou aos outros.
Assim, alertamos para os
medos exagerados de ameaças à nossa segurança que nos impedem de aproveitar as
oportunidades positivas da atualidade. A paz é mais do que a segurança. Desta
forma, o nosso objetivo tem de ser garantir que cada pessoa possa viver a sua
vida com dignidade. Quando os Estados lutam para proporcionar segurança,
alcançar a paz depende ainda mais da responsabilidade individual dos cidadãos
para com a sociedade em que vivemos. Como cristãos, somos chamados a dar testemunho
através do nosso comportamento e escolhas diários numa sociedade que respeita a
justiça e dignidade humana e, assim, proporciona verdadeira segurança para
todos.
Fazemos um apelo:
- à União Europeia e aos
Estados Europeus, para abraçarem uma verdadeira política de paz com base no
desenvolvimento humano integral e um estilo de política não-violenta que
respeite a dignidade de cada pessoa humana
- aos políticos e decisores
políticos a todos os níveis, para garantirem que as leis que adotam, as posições
que assumem, e a linguagem que usam respeitam a dignidade humana e o princípio
do Estado de Direito, em vez de refletirem uma noção redutora e auto-destrutiva
da segurança para o seu próprio bem
- aos académicos, para
analisarem novos conceitos para os desafios de hoje que oferecem uma perspetiva
para todos
- aos meios de comunicação
social e aos promotores das redes sociais, com cada vez mais influência, para
desenvolverem uma maior perceção da responsabilidade ética que têm, para denunciarem
discursos de ódio e evitarem incentivar os estereótipos, e para revelarem
sempre o rosto da história que querem contar
- à Igreja, para que realize
a sua vocação como um sacramento de paz ao serviço do mundo, um sinal visível e
exemplo de como o respeito pela justiça e pelos direitos humanos, juntamente
com a segurança, proporcionam os fundamentos da verdadeira paz
- a todos os cidadãos, para
cumprirem a sua responsabilidade individual de construir uma comunidade mais
segura e pacífica através do diálogo e um espírito de fraternidade com o
próximo.”