Dá-nos,
Senhor, aquela PAZ inquieta
Que
denuncia a PAZ dos cemitérios
E
a PAZ dos lucros fartos.
Dá-nos
a PAZ que luta pela PAZ!
A
PAZ que nos sacode
Com
a urgência do Reino.
A
PAZ que nos invade,
Com
o vento do Espírito,
A
rotina e o medo,
O
sossego das praias
E
a oração de refúgio.
A
PAZ das armas rotas
Na
derrota das armas.
A
PAZ do pão da fome de justiça,
A
PAZ da liberdade conquistada,
A
PAZ que se faz “nossa”
Sem
cercas nem fronteiras,
Que
é tanto “Shalom” como “Salam”,
Perdão,
retorno, abraço...
Dá-nos
a tua PAZ,
Essa
PAZ marginal que soletra em Belém
E
agoniza na Cruz
E
triunfa na Páscoa.
Dá-nos,
Senhor, aquela PAZ inquieta,
Que
não nos deixa em PAZ!
Poema de D. Pedro Casaldáliga, bispo emérito de São Félix do
Araguaia, Brasil que completou ontem 90 anos.
D. Pedro Casaldáliga nascido
em Balsareny, região da Catalunha, foi para o Brasil e, em 1968, mergulhou na
Amazônia. Nomeado bispo de São Félix do Araguaia, adotou como divisa princípios
que haveriam de nortear literalmente sua atividade pastoral: “Nada possuir, nada carregar, nada pedir,
nada calar e, sobretudo, nada matar”. No seu primeiro ano de episcopado (1971)
escreve o manifesto, a primeira carta pastoral “Uma
Igreja da Amazônia em conflito com o latifúndio e a marginalização social”
denunciando o trabalho escravo na região, tornando-se uma referência para os
movimentos de oposição à ditadura brasileira. Pastor de um
povo ameaçado pelo trabalho escravo, tomou-lhe a defesa, entrando em choque com
os grandes fazendeiros, as empresas agropecuárias, mineradoras e madeireiras. Poeta
e revolucionário, pastor dos negros e dos indígenas. Cinco vezes réu em
processos de expulsão do Brasil e frequentemente ameaçado de morte. Continua
hoje morando numa casa humilde em São Félix do Araguaia, com o seu “irmão
Parkinson” – como costuma dizer.
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