O prémio Nobel da Paz 2017 foi atribuído, no
passado mês de outubro, a Campanha
Internacional para a Abolição das Armas Nucleares (ICAN, na sigla original).
A ICAN é uma coligação internacional que reúne centenas de
organizações humanitárias, ambientais, de direitos humanos, pacifistas e de
apoio ao desenvolvimento, de cerca de 100 países, e trabalha ativamente há mais
de 10 anos na tentativa da proibição e eliminação das armas nucleares,
alertando para as consequências humanitárias catastróficas que o seu uso
provocará.
"A organização recebe
esta distinção pelo seu trabalho na sensibilização para as consequências
humanitárias catastróficas de qualquer uso de armas nucleares e pelos seus esforços
revolucionários para promover uma proibição de tais armas por tratado”,
declarou o Comité Nobel norueguês, que considera que “o risco das armas nucleares serem
usadas é maior do que alguma vez foi em muito tempo”.
Isso mesmo disse a própria ICAN, depois de
saber que tinha sido agraciada com o Nobel da Paz. “Este é um momento de grande tensão global, em que a retórica agressiva
pode facilmente levar-nos a todos, de forma inexorável, ao horror
indescritível. O fantasma do conflito nuclear
assombra-nos mais uma vez.”
Opinião semelhante tem John Carlson, especialista em
desarmamento nuclear: “Desde o fim da Guerra Fria, a maioria das
pessoas pensa que o risco de uma guerra nuclear acabou. Agora estamos perante
uma situação perigosa em que Estados com armamento nuclear olham para estas
armas como se fossem só mais uma de várias opções militares."
Em julho deste ano, a ICAN foi responsável pela criação de um
tratado (apoiado pelas Nações Unidas) que proíbe a utilização de armamento
nuclear - O Tratado para a Proibição das Armas Nucleares - o primeiro instrumento obrigatório
para o desarmamento nuclear, requer que todos os países que o ratifiquem se
abstenham de desenvolver, testar, produzir, construir, adquirir, possuir ou
armazenar armas nucleares em quaisquer circunstâncias.
O Tratado, aprovado por 122 países, teve a
oposição das nove potências nucleares – Estados
Unidos, Rússia, Reino Unido, França, Israel, China, Índia, Paquistão e Coreia
do Norte – e da maioria dos países da NATO,
incluindo Portugal.
O tratado proíbe categoricamente as piores armas de destruição
em massa e estabelece um caminho claro para sua eliminação total. É uma
resposta à preocupação cada vez maior da comunidade internacional de que
qualquer uso de armas nucleares causaria danos catastróficos, generalizados e
duradouros às pessoas e ao nosso planeta.
Desde 20 de Setembro, já cerca de 50 países, entre eles o
Vaticano, assinaram o tratado.
“É um evento histórico, apesar da recusa das
potências nucleares de aderir a ele…Quando o tratado entrar em vigor (depois de
50 países o terem ratificado), será mais difícil para os países que possuem
armas nucleares, sendo eles ou não parte do Tratado de Não-Proliferação,
continuarem a afirmar que têm armas nucleares legitimamente para a proteção da
sua segurança e dos seus aliados", refere Marc Funaud, principal
assessor do Programa de Desafios Emergentes de Segurança e Grupo de
Proliferação de Armas do Centro de Genebra para a Política de Segurança.
Sobre esta matéria, a Santa Sé organiza no Vaticano, nos dias 10 e 11
de novembro, um congresso internacional intitulado “Perspetivas para um mundo livre das armas nucleares e para um
desarmamento integral” com representantes da ONU, da NATO e onze prémios Nobel da Paz.
“Se forem levadas em consideração as
principais ameaças à paz e à segurança neste mundo multipolar do século XXI,
como o terrorismo, os conflitos assimétricos, as problemáticas ambientais, a
pobreza, surgem muitas dúvidas sobre a inadequação da dissuasão nuclear para
responder efetivamente a tais desafios”, escreveu o Papa Francisco. “As preocupações aumentam quando consideramos
as catastróficas consequências humanitárias e ambientais que derivam de
qualquer utilização das armas nucleares com devastadores efeitos
indiscriminados e incontroláveis no tempo e no espaço, sem falar no desperdício
de recursos para a energia nuclear para fins militares, que, ao contrário,
poderiam ser utilizadas para prioridades mais significativas, como a promoção
da paz e do desenvolvimento humano. O objetivo final da eliminação total das
armas nucleares torna-se tanto um desafio quanto um imperativo moral e
humanitário”.
Entre nós, o Conselho Português para a Paz e
Cooperação lançou uma petição com o objetivo de pressionar as autoridades
portuguesas a assinar e ratificar o Tratado de Proibição das Armas Nucleares.
Pode ser lida e assinada aqui: «Pela assinatura por parte de Portugal do Tratado
de Proibição de Armas Nucleares – Pela paz, pela segurança, pelo futuro da
Humanidade!»
“Não é possível vencer uma guerra
nuclear” - diz Beatrice Fihn, diretora-executiva da Campanha Internacional
para a Abolição das Armas Nucleares e Prémio Nobel da Paz.
Ver entrevista AQUI
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